Nos últimos dias, diversos clientes da XP Investimentos vieram a público se queixar de pesadas perdas causadas por aplicações em Certificados de Operações Estruturadas (COEs). Os COEs são produtos financeiros lastreados em diversos tipos de ativos de risco como ações, contratos de juros, moedas e derivativos. Para atrair interessados, as corretoras e os assessores de investimentos prometem um retorno acima da média do mercado com a segurança de produtos de renda fixa. O problema é que esses produtos embutem uma elevada dose de risco que pode literalmente pulverizar o dinheiro investido pelos clientes.
Foi o que aconteceu com os COEs da Ambipar. Os certificados oferecidos pela XP espelhavam a variação das cotações dos bonds – um tipo de papel emitido pela gestora de resíduos no exterior com o objetivo de captar recursos. É comum que grandes investidores como fundos de previdência privada comprem bonds e outros títulos de dívida de grandes empresas como forma de diversificar sua carteira. Também é comum que essas instituições não esperem o vencimento dos papéis para resgatar o que investiu e optem por um “atalho”: vendê-los a outros investidores no chamado mercado secundário com um desconto em relação ao que receberiam se esperassem o vencimento.
O desconto determina o valor de mercado de cada papel e pode estar mais longe ou mais próximo de seu valor nominal. Os COEs de crédito são instrumentos que espelham o comportamento do valor de mercado de bonds e outros títulos de dívida. Como toda dívida, o risco de calote é determinante para a cotação desses papéis. Foi justamente isso que implodiu os COEs da Ambipar. Em 25 de setembro, a companhia obteve na Justiça do Rio de Janeiro uma medida cautelar, válida por trinta dias e renováveis por igual período, contra a cobrança antecipada de credores.
A medida foi interpretada pelo mercado como um sinal de que a empresa apresentará em breve um pedido de recuperação judicial, após ser pressionada por bancos a quitar contratos financeiros com cláusulas de vencimento cruzado, situação em que o resgate antecipado de um contrato serve de gatilho para o vencimento de outros, criando uma bola de neve. No documento apresentado à Justiça, a Ambipar estima que o rombo pode chegar a 10 bilhões de reais.
Com a possibilidade de insolvência da empresa, os preços de todos os seus títulos de dívidas derreteram, incluindo aqueles que o COE procurava espelhar. Com isso, a XP informou os clientes nos últimos dias de que encerraria a operação e realizaria o resgate antecipado dos investimentos. A decisão foi amparada por cláusulas do contrato firmado com os clientes que garantem a liquidação antecipada do produto em determinados casos como uma deterioração relevante do risco de crédito ou uma queda brusca das ações.
Para piorar, o produto não é protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito, mantido pelos bancos públicos e privados para socorrer investidores e poupadores em caso de grandes perdas financeiras. Com isso, os clientes receberão apenas 6,88% do total que investiram nos COEs da Ambipar – um prejuízo de praticamente 93%. No site do Reclame Aqui, vários investidores queixam-se de que foram induzidos a investir no produtos por assessores da XP que teriam omitido ou não explicado claramente todos os riscos envolvidos.