Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) obtido pela Polícia Federal mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro movimentou 30,5 milhões de reais na sua conta bancária entre março de 2023 e junho deste ano. O documento foi juntado à investigação sobre a tentativa de obstruir o andamento do caso do golpe de estado — no qual o ex-presidente e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foram indiciados nesta quarta, 20.
Segundo o relatório financeiro, “no período de 01/03/2023 a 07/02/2024, foram movimentados R$ 30.576.801,36 em créditos e R$ 30.595.430,71 em débitos, cujos resumos por tipo de lançamento constam nas tabelas a seguir”. O documento menciona 50 movimentações atípicas, sendo oito delas ligadas a pessoas do núcleo do ex-presidente, como seu filho Eduardo e a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Apesar da alta quantia, o relatório não diz que o valor teria origem ilícita. Em 2023, quando o cerco começou a ficar apertado para Bolsonaro e as investigações começaram a avançar ao seu redor, seus apoiadores fizeram uma campanha de doações via Pix que bateram módicos dezenove milhões de reais. Além disso, o ex-presidente recebe um salário como presidente de honra do PL.
Dentro dessas movimentações constatadas pelo relatório do COAF, está o Pix de dois milhões de reais que Bolsonaro fez a Eduardo este ano, quando o parlamentar mudou para os Estados Unidos com o objetivo de angariar ajuda externa para constranger as autoridades brasileiras a paralisarem as ações penais contra seu pai. A doação pesou no indiciamento do ex-presidente e do parlamentar.
O relatório também encontrou uma operação de câmbio no valor de 1,6 milhão de reais em uma conta de Eduardo em um banco dos Estados Unidos, além de despesas na ordem dos 6,6 milhões de reais, por parte de Jair Bolsonaro, com escritórios de advocacia.
Indiciamento pela PF
Nesta quarta, Bolsonaro e Eduardo foram indiciados pela Polícia Federal pelos crimes de coação no curso do processo (cuja pena máxima é de quatro anos) e abolição violenta do Estado Democrático de Direito (cuja pena maior é oito anos). Somadas, as penas mais altas desses dois delitos chegam a doze anos — o que, em uma eventual condenação, levaria o ex-presidente e seu filho para atrás das grades, pelo menos no começo do cumprimento da pena.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes concedeu 48h (que vencem na noite desta sexta-feira, 22), para Bolsonaro explicar se tinha intenção de deixar o país. Investigadores encontraram uma minuta de pedido de asilo político para a Argentina. Segundo apuração da coluna Radar, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) teria dado a ideia ao pai e começado a colocá-la no papel.