A CNI divulgou carta, nesta segunda para pedir que as autoridades brasileiras sejam pragmáticas nas negociações com os Estados Unidos sobre o tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump.
A entidade avalia que o Brasil tem pleno direito de defender seus interesses, diante da injustificável medida, mas deve conduzir o diálogo com os americanos de modo agregador. Para a CNI, o Brasil deve buscar “clarificar os entendimentos que levam a posições políticas exacerbadas”, como as adotadas por Trump, ao usar sanções econômicas para interferir em decisões do Judiciário brasileiro, e “manter uma das maiores conquistas do Brasil, de ser uma nação com boa relação internacional com todos”.
“Vamos focar em clarificar os entendimentos que levam a posições políticas exacerbadas. Devemos ser pragmáticos nas discussões meramente técnicas”, diz a entidade. “Acreditamos que se mantivermos uma posição de focar em esclarecer e desmistificar os equívocos, não perderemos qualquer conceito de soberania”, segue a entidade.
Apesar de todos os esforços de líderes empresariais e de integrantes do governo para abrir canais de negociação com os Estados Unidos a partir do diálogo, na semana passada, o presidente Lula adotou, em diferentes momentos, uma postura de enfrentamento ao governo Trump, lançando provocações contra o republicano em discursos de palanque. O petista chegou a comparar a crise tarifária a um jogo de truco, sugerindo ainda ter cartas na manga para reagir aos EUA.
O uso político da crise por parte de Lula alarmou empresários que defendem uma posição técnica no tratamento das negociações. O tarifaço dos EUA deve entrar em vigor na próxima sexta-feira.
A CNI e outras entidades pregam bom senso nas discussões e um adiamento de 90 dias para que as negociações ocorram de modo a não impactar severamente as economias dos dois países.
Desde o anúncio do tarifaço, em 9 de julho, empresas brasileiras que exportam para os EUA passaram a perder contratos e a ter de cancelar envios. Fábricas em diferentes regiões do país já interromperam a produção e deram férias coletivas a funcionários, esperando o desfecho da crise. A CNI e outras entidades falam na perda de milhares de empregos no Brasil, caso a sanção seja implementada.
Leia a carta do presidente da CNI, Ricardo Alban:
A CNI vem a público reiterar sua posição sobre a provável implantação do expressivo e injustificável aumento das tarifas americanas sobre as exportações brasileiras. Já nos manifestamos, realizamos diversas tratativas e reivindicamos a revogação e até mesmo a prorrogação por 90 dias do chamado “tarifaço”. Também pedimos que a recente “investigação” aberta pelo EUA seguisse o processo formal.
Como é de pleno conhecimento de todos os brasileiros e americanos, não existe qualquer justificativa econômica/comercial para o Brasil ter saído de uma posição do “piso” de 10% para uma inexequível posição de “teto” de 50%.
Queremos acreditar que tal situação não se deva única e exclusivamente a uma escalada de posições políticas e geopolíticas! O que, certamente, seria inaceitável para não só às relações comerciais, bem como para toda a sociedade brasileira e americana. É imperativo refletir sobre possíveis equívocos de natureza política/ideológica que tenham agravado a presente situação.
O Brasil precisa priorizar seus reais interesses, em nome do bem comum de todos e da verdadeira soberania de qualquer nação: o que realmente importa é o que traz benefícios e entregas para seu povo! Vamos olhar objetivamente para frente e termos os recentes equívocos como um grande aprendizado para enfrentar os futuros desafios. Temos observado referências de outros países que, definitivamente, estão negociando e buscando bons termos independentemente de posições ideológicas e geopolíticas.
Vamos focar em clarificar os entendimentos que levam a posições políticas exacerbadas. Devemos ser pragmáticos nas discussões meramente técnicas como temos visto por parte de outros países em desenvolvimento. Devemos manter uma das maiores conquistas do Brasil, de ser uma nação com boa relação internacional com todos (friendly). Enfim, acreditamos que se mantivermos uma posição de focar em esclarecer e desmistificar os equívocos, não perderemos qualquer conceito de soberania.
Sim, devemos buscar não perder a razão e manter a nítida e clara postura de enfrentar os desafios de forma retilínea e com altivez de quem, efetivamente, quer o melhor para a sua sociedade. Mesmo tendo que enfrentar situações adversas e ou provocativas. Afinal, o equilíbrio e o bom senso sempre prevalecem.
Somos, definitivamente, contrários a qualquer escalonamento das discussões do comércio bilateral entre o Brasil e os EUA, assim como nos colocamos a inteira disposição para os pertinentes alinhamentos necessários ao processo de negociação, inclusive para o atual processo da investigação da Seção 301 aberta pelos EUA. O Brasil é da nação brasileira, composta por todos brasileiros e suas instituições. Esperamos o consenso e o bom senso para o desfecho desse equívoco que é taxação de 50% sobre as exportações brasileiras.