Logo no início, o filme Cinco Tipos de Medo transporta a plateia para um universo que de tão real, recente e absurdo parece paralelo: no hospital, durante a pandemia, a enfermeira Marlene (papel de Bella Campos) cuida de um paciente prestes a ser entubado, Murilo (vivido por João Vitor Silva). Um ano depois, eles se reencontram, se apaixonam, e começam a namorar. Marlene, porém, tem outro relacionamento, ou melhor, um problema, como ela mesmo diz. A jovem do Jardim Novo Colorado, comunidade de Cuiabá, é tida como “propriedade” do chefe do tráfico Sapinho (interpretado pelo rapper Xamã). Longe dali, na classe média da cidade, dois outros personagens vão cruzar o caminho de Marlene, Murilo e Sapinho: o advogado Ivan (Rui Ricardo Diaz) e a policial Luciana (Bárbara Colen). Os cinco vão conduzir a trama criada e dirigida por Bruno Bini no filme que surpreendeu o Festival de Gramado no fim de semana.
O evento, parte incontornável do calendário das produções nacionais, nunca havia premiado um longa do Mato Grosso. Ao subir no palco para receber o Kikito de montagem, Bini ressaltou que aquela era a primeira estatueta de Gramado a ser entregue para um filme do estado. Nos minutos seguintes, outros “primeiros” vieram: Cinco Tipos de Medo foi agraciado ainda com os prêmios de melhor roteiro, também para Bini; ator coadjuvante, para Xamã; e melhor filme.
A história real por trás de Cinco Tipos de Medo
Exemplar raro do cinema nacional, o filme de gênero é um suspense criminal, de ritmo alucinante e uma pincelada na vida real. Sapinho, que seria o vilão, para várias pessoas do bairro onde ele atua o consideram um “xerife” benfeitor, retrato de uma realidade recorrente em bairros à margem da sociedade no país. O diretor do longa se inspirou num episódio real, quando moradores do mesmo bairro onde a trama se passa fizeram uma vaquinha para pagar a fiança do líder do tráfico local, pois sua ausência deixava o bairro vulnerável a outras facções. “É um filme que nasce do Brasil profundo, com suas contradições, potências e histórias, que muitas vezes ficam fora do radar do audiovisual tradicional”, disse o cineasta.