Em meio à floresta amazônica, um grupo de pesquisadoras se deparou com uma dúvida intrigante: qual é a função das torres cilíndricas erguidas pelas ninfas de cigarras no solo? Até então, acreditava-se que eram apenas uma espécie de abrigo temporário para a metamorfose. Mas a forma e o tamanho variados dessas construções levantavam outras hipóteses e para testá-las, as cientistas recorreram a um método tão inusitado quanto eficaz: preservativos.
Feitas de uma mistura de argila e excretas, as torres chamaram a atenção pela semelhança com pequenos dutos de ventilação. A partir da observação, surgiu a ideia de que elas poderiam ter um papel fisiológico, funcionando como um sistema de trocas gasosas entre o interior da torre e o ambiente externo — algo essencial para a respiração dos insetos em solos úmidos e compactos. Restava testar a teoria na prática.
O experimento foi conduzido por Marina Méga, doutoranda em Ecologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Sara Feitosa, da Universidade Federal do Ceará (UFC); Izadora Nardi e Maria Luiza Busato, ambas da Unicamp. As quatro jovens integraram a turma de 2025 do Programa de Formação em Ecologia Quantitativa, iniciativa do Instituto Serrapilheira. O projeto surgiu durante a etapa prática do curso, realizada em plena floresta, que desafia estudantes a aplicar métodos quantitativos em problemas de campo.
Como a camisinha entrou na história?
O desafio era simples: como vedar as torres de barro para medir se realmente regulavam a entrada e saída de gases? A solução veio em tom de brincadeira: usar camisinhas pelo formato similar das estruturas. A piada virou método científico.
Com 40 unidades do material, as estudantes cobriram as torres e perceberam que, ao inflarem levemente, os preservativos mostravam trocas gasosas acontecendo. A constatação reforçou a hipótese de que as estruturas ajudam na sobrevivência das ninfas. Além disso, elas notaram que as torres maiores não só resistiram melhor ao estresse, como também cresceram mais do que as menores quando vedadas — um indício de que o tamanho está ligado à resiliência fisiológica das cigarras.
Além de comprovar que as torres são mais do que simples abrigos, a equipe encontrou a maior já registrada no mundo: 47 centímetros de altura, superando o recorde anterior em sete centímetros.