Cientistas de mais de 30 países se reuniram para redigir um documento para alertar sobre a importância da 30ª Conferência das Partes sobre Mudanças do Clima, que acontece em novembro no Brasil, às delegações participantes. A iniciativa ocorre em um momento em que as florestas tropicais se aproximam de chamado “ponto crítico” – quando correm o risco de perder sua função como sumidouro de carbono. Em outras palavras: quando perdem a capacidade de absorver mais do que emitir CO2. A lista é longa dos muitos eventos que continuamente colaboram para isso: desmatamento, queimadas, atividades ilegais, mineração predatória, além de grandes obras de infraestrutura e expansão descontrolada da agricultura – situações que têm provocado mudanças de regime da vegetação, degradação florestal, fragmentação de habitats e erosão da resiliência ecológica.
Ao mesmo tempo, os impactos da mudança climática já são evidentes. Entre eles, o aumento das temperaturas médias, alterações nos regimes de chuva e secas, incêndios e inundações cada vez mais frequentes e intensos. “Esses fenômenos já não são projeções, mas realidades vividas na América do Sul, na África e na Ásia”, cita o documento. Os cientistas lembram que a degradação dos sistemas naturais não ameaça apenas a subsistência e direitos dos povos originários dessas, mas “também a estabilidade social e econômica de nações inteiras. Ignorar essa crise multidimensional — que combina injustiça ambiental, desigualdade histórica e risco existencial — é inaceitável. ”
O grupo chama a atenção que sem conservação e recuperação das florestas tropicais será impossível alcançar uma estabilidade climática. Na tentativa de reverter o cenário de degradação e aquecimento do clima, a ciência deve cumprir seu papel como fonte confiável de evidências, ferramenta de planejamento estratégico e base para decisões urgentes e informadas, apontam. Para isso, as ações necessárias devem ir além da conservação ambiental: incluem o fortalecimento da infraestrutura científica nas regiões tropicais, a proteção dos direitos territoriais e culturais dos povos indígenas e a transição para economias sustentáveis, baseadas no conhecimento e impulsionadas pela inovação.
O conhecimento para agir já está disponível, as tecnologias existem e caminhos alternativos foram traçados. O que falta é vontade política, cooperação internacional efetiva e compromisso global de longo prazo. A ciência está pronta — mas precisa ser ouvida. Entre as recomendações de ações na área científica, está reforçar a cooperação internacional em prol da proteção de florestas tropicais e ampliar investimentos em ciência orientada a missões concretas, voltada a problemas como restauração florestal, recuperação de áreas degradadas, monitoramento do ciclo hidrológico, vigilância ambiental para prevenção de doenças, desenvolvimento de tecnologias sociais, manejo sustentável da biodiversidade e inovação tecnológica em sistemas de uso da terra e mitigação dos impactos das mudanças climáticas. A COP30, dizem os cientistas, é o momento para que a biodiversidade seja recolocada no centro das decisões globais. E o momento é crucial –sim, porque o mundo já esquentou mais do que o limite 1,5 °C previsto no Acordo de Paris e os eventos extremos já estão aí com destruições, mortes e sofrimento.
Leia:
+https://veja.abril.com.br/agenda-verde/banco-mundial-aprova-fundo-florestas-tropicais-para-sempre-aposta-do-brasil-para-a-cop30/
+https://veja.abril.com.br/economia/leiloes-publicos-atraem-46-bilhoes-de-reais-para-a-economia-verde-no-brasil/