Pela primeira vez, cientistas registraram sons associados a descargas elétricas na atmosfera de Marte. Os dados, publicados na revista Nature, foram analisados a partir de sinais acústicos e eletromagnéticos captados por instrumentos instalados no planeta, e mostram estalos rápidos compatíveis com pequenos relâmpagos produzidos em tempestades de poeira.
As gravações revelam variações de pressão e pulsos elétricos que se propagam pelo ar rarefeito marciano e chegam aos microfones com intensidade baixa, mas reconhecível. O material analisado também indica que as tempestades de poeira não são apenas fenômenos visuais, mas também geram atividade elétrica detectável, algo há muito sugerido por modelos atmosféricos, mas nunca confirmado dessa forma.
Os registros sugerem que descargas elétricas são mais comuns do que se imaginava, especialmente durante tempestades intensas que cobrem grandes áreas do planeta. A poeira em suspensão tende a se eletrificar por atrito, e quando a carga acumulada atinge um certo limite, ocorrem pequenas descargas entre as partículas.
Por que os sons de Marte são tão diferentes dos da Terra?
O ar marciano é muito mais rarefeito e composto principalmente por dióxido de carbono. Isso afeta a velocidade do som e reduz o alcance dos ruídos. No caso das descargas elétricas, os estalos se propagam com pouca energia e se dissipam rapidamente. Ainda assim, quando detectados, ajudam a identificar fenômenos que não podem ser observados apenas por imagens.
A baixa pressão também faz com que sons de mesma origem pareçam mais abafados e menos vibrantes do que na Terra. Por isso, os ruídos captados são breves, discretos e exigem tratamento técnico para ficarem audíveis ao público.
O que a descoberta representa para as próximas missões?
Os novos registros oferecem informações diretas sobre a atividade elétrica marciana, algo relevante para a avaliação de risco para veículos, instrumentos e, futuramente, astronautas. Descargas podem interferir em equipamentos eletrônicos e influenciar processos químicos que alteram a composição da atmosfera.
Além disso, o estudo abre espaço para monitoramentos contínuos, permitindo mapear padrões sazonais e determinar com mais precisão em quais regiões e épocas as tempestades elétricas são mais intensas.