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China recua em planos de carros autônomos após acidente fatal e freia ambição industrial

A China adiou seus planos de produção em massa de veículos autônomos após um acidente fatal envolvendo um carro com tecnologia de direção assistida, em um movimento que sinaliza maior cautela regulatória diante de riscos à segurança e da pressão da opinião pública.

Após anos incentivando montadoras a desenvolver automóveis capazes de rodar sem as mãos no volante e, em alguns casos, sem atenção constante do motorista, o governo chinês decidiu limitar autorizações para novos sistemas de autonomia. Na semana passada, o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação aprovou apenas dois dos nove projetos apresentados por fabricantes que buscavam autorização para vender veículos com funções avançadas de condução automática.

As licenças concedidas permitem apenas testes restritos, e não a produção em escala comercial. O Beijing Automotive Group e a Changan Automobile foram autorizados a operar táxis autônomos em trechos específicos de rodovias nas cidades onde têm sede, com limitações como a proibição de troca de faixa sob controle do computador. Fora dessas áreas, os veículos devem ser conduzidos por motoristas humanos.

A decisão representa um recuo em relação às metas estabelecidas há cerca de cinco anos, quando Pequim previa a chegada de carros altamente autônomos ao mercado consumidor até o fim de 2025.

O ponto de inflexão foi um acidente ocorrido no fim de março, envolvendo um sedã elétrico Xiaomi SU7 em uma rodovia da província de Anhui. Três estudantes universitárias morreram após o veículo colidir com uma barreira de concreto enquanto operava no modo de direção assistida.

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Diferentemente de episódios anteriores, o caso ganhou ampla repercussão nas redes sociais chinesas, escapando à censura inicial e provocando debate público sobre responsabilidades legais e falhas tecnológicas.

A Xiaomi informou que o sistema detectou o fechamento da faixa por obras e emitiu alerta ao motorista, que assumiu o controle instantes antes da colisão. Ainda assim, o episódio expôs limitações dos sistemas disponíveis no mercado e levantou dúvidas sobre a prontidão da tecnologia.

Diante da reação pública, o Ministério da Segurança Pública passou a intervir de forma mais direta, reforçando alertas sobre o uso inadequado da direção assistida e destacando que os sistemas vendidos atualmente não equivalem à condução totalmente autônoma.

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Níveis de autonomia e testes sob escrutínio

A regulação chinesa distingue três níveis principais de automação. No nível 2, amplamente disponível, o carro auxilia na direção, mas exige atenção constante do motorista. No nível 3, o sistema assume tarefas mais complexas, embora o condutor deva estar pronto para intervir. Já o nível 4 envolve táxis-robô sem motorista, hoje em testes em cidades como Wuhan.

Relatórios da televisão estatal chinesa mostraram que sistemas de nível 2 de fabricantes locais apresentam desempenho irregular em cenários complexos, como obras noturnas em rodovias. Em testes comparativos, apenas modelos da Tesla demonstraram maior consistência em evitar colisões, segundo essas avaliações.

Mesmo assim, montadoras chinesas haviam acelerado investimentos, apostando na liberação iminente do nível 3. Empresas como Geely, XPeng e Li Auto chegaram a produzir veículos equipados com sensores e câmeras avançadas, mas agora são obrigadas a limitar o software às funções mais básicas enquanto aguardam novas decisões regulatórias.

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Pouco antes do anúncio do governo, a Geely inaugurou em Ningbo um grande centro de testes de segurança, em uma tentativa de demonstrar comprometimento com padrões mais elevados. Ainda assim, a estratégia de Pequim indica que a prioridade passou a ser a contenção de riscos, e não a corrida comercial.

Pausa estratégica

Analistas do setor automotivo na Ásia avaliam que o governo chinês optou por formalizar uma pausa regulatória para reorganizar regras de responsabilidade civil, seguros e certificação tecnológica. A avaliação predominante é que o avanço recente foi impulsionado mais por estratégias de marketing e competição industrial do que pela maturidade da tecnologia e da governança.

A decisão também alinha a China a uma postura mais cautelosa adotada em outros mercados. Nos Estados Unidos, empresas como a Waymo enfrentaram restrições após falhas operacionais, enquanto países europeus mantêm limites rigorosos para testes em vias públicas.

Com isso, o país que lidera a produção global de veículos elétricos sinaliza que, no caso da autonomia total, o ritmo será ditado menos pela ambição industrial e mais pela segurança e pela confiança pública.

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