O alto funcionário da segurança da Ucrânia que esteve por trás das negociações de paz com a Rússia e Estados Unidos, Rustem Umerov, foi interrogado como testemunha de um escândalo de corrupção, informaram dois veículos de imprensa locais nesta quarta-feira, 26. Ele foi convidado a depor como parte da investigação sobre Timur Mindich, o suposto líder de um esquema de propinas de US$ 100 milhões (mais de R$ 534 milhões) envolvendo a empresa estatal de energia nuclear Energoatom.
Umerov, secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, esteve à frente da delegação de Kiev nas negociações de paz com os russos na Turquia em maio. Ele também ficou responsável por uma reunião com o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, em Miami, neste mês, para discutir um plano que levaria ao fim da guerra, iniciada em fevereiro de 2022, segundo a agência de notícias Reuters.
Há duas semanas, o Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU) abriu uma investigação sobre a suposta rede de propinas, aumentando o furor das críticas sobre a falta de pulso firme do presidente Volodymyr Zelensky no combate à corrupção — um dos requisitos-chave para a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE). Até o momento, sete pessoas foram acusadas, das quais cinco ainda estão detidas.
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Demissões de ministros
Em meio às revelações, Zelensky demitiu o ministro da Justiça, German Galushchenko, e a ministra da Energia, Svitlana Grynchuk, além de ter pedido sanções pessoais contra seu amigo e ex-sócio, Timur Mindich. Na ocasião, o líder ucraniano defendeu que “deve haver máxima integridade no setor de energia, em absolutamente todos os processos” e apoiou “todas as investigações”.
Prometendo responsabilizar aqueles que infringirem a lei, ele acrescentou: “Neste momento, a situação está extremamente difícil para todos na Ucrânia – enfrentando apagões, ataques russos e prejuízos. É absolutamente inaceitável que, em meio a tudo isso, ainda existam esquemas (de corrupção) no setor energético.”
Galushchenko atuou por quatro anos no Ministério da Energia, deixando o cargo para assumir a pasta da Justiça em julho. Segundo o Escritório da Procuradoria Especializada Anticorrupção (SAPO), o então ministro teria ajudado os participantes do esquema, como o ex-sócio do presidente, a lavar dinheiro por meio do setor energético, incluindo a estatal Energoatom.
Segundo o NABU, o grupo teria montado um “grande esquema de corrupção para controlar importantes empresas estatais”. No caso da Energoatom, o órgão apontou que os criminosos teriam recebido propina de empreiteiras vinculadas à estatal, com valores entre 10% e 15% do valor de cada contrato. Galushchenko e Grynchuk negaram qualquer irregularidade.
Mindich, por sua vez, fugiu da Ucrânia pouco antes do anúncio da investigação em 10 de novembro. Um dia depois, Umerov disse que havia se reunido com o agora acusado para tratar de questões relativas a um contrato de fornecimento de coletes à prova de balas no passado. Nas redes sociais, ele afirmou que “o contrato foi rescindido devido ao produto não atender aos requisitos, e nenhum item foi entregue”.
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Giro de 180°
No final de julho, o Parlamento da Ucrânia aprovou uma lei que restaurou a independência de duas importantes agências anticorrupção, conhecidas como Nabu e Sapo, visando apaziguar uma enorme crise política no país. Essencialmente, os legisladores anularam outra legislação, que havia sido ratificada na semana anterior, que provocou o maior movimento de protestos contra o governo ucraniano desde que a Rússia invadiu o país, há mais de três anos.
Foram 331 votos a favor e zero contra o projeto de lei, apresentado por Zelensky, após pressão de milhares de manifestantes nas ruas de Kiev e outras cidades, bem como de altos funcionários europeus. Quando a notícia da votação foi divulgada, aplausos irromperam entre a multidão reunida em um parque próximo ao Parlamento na capital, o mais recente de uma série de manifestações, com a presença predominante de jovens ucranianos.
A sessão parlamentar foi televisionada pela primeira vez desde 2022, suspendendo a proibição de filmagem por motivos de segurança. Parlamentares da oposição fizeram discursos inflamados criticando Zelensky e a administração presidencial antes da votação. A comissária para o alargamento da União Europeia, Marta Kos, celebrou reversão das medidas de semana passada, afirmando que “a lei de hoje restaura salvaguardas essenciais”. No entanto, alertou que “os desafios permanecem”.