O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, e o enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Steve Witkoff, conversaram por telefone diversas vezes desde que Israel iniciou seus ataques a território iraniano, há uma semana, disseram três fontes diplomáticas à agência de notícias Reuters nesta quinta-feira, 19.
De acordo com os diplomatas, Araghchi afirmou que Teerã não retomaria negociações com os EUA sobre seu programa nuclear a menos que Israel interrompesse os ataques.
As conversas, segundo a Reuters, incluíram uma breve discussão sobre a proposta apresentada por Washington a Teerã no final de maio para criar um consórcio regional para enriquecer urânico fora do Irã — uma oferta que o Irã rejeitou.
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Mais cedo, nesta quinta, a agência de notícias estatal iraniana IRNA confirmou que Araghchi se reunirá na sexta-feira em Genebra com seus homólogos de Reino Unido, França e Alemanha, juntamente com a chefe de política externa da União Europeia.
Segundo fontes ouvidas pelo jornal americano Wall Street Journal, a ideia dos europeus é tentar apaziguar o conflito, que chega em seu sétimo dia, após Israel lançar ataques contra o Irã com objetivo de enfraquecer o programa nuclear iraniano.
Reino Unido, França e Alemanha participaram ativamente das negociações que resultaram no acordo de 2015 para conter atividades nucleares do Irã em troca do alívio de sanções. O acordo foi abandonado unilateralmente por Donald Trump durante seu primeiro mandato como presidente dos Estados Unidos.
Na quarta-feira, o gabinete do presidente da França, Emmanuel Macron, já havia afirmado que trabalharia com aliados europeus para propor uma solução negociada que pudesse pôr fim ao conflito. Nesta quinta, o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Noël Barrot, não confirmou a reunião planejada, mas afirmou que a França expressou disposição “para participar de negociações que visam obter do Irã uma reversão duradoura de seu programa nuclear e balístico”.
O momento, no entanto, é de tensão em meio à possibilidade de entrada ativa dos Estados Unidos no conflito, ao lado de Israel. Segundo reportagem do Wall Street Journal, Trump teria dito a conselheiros na terça-feira que já aprovou planos de ataque ao Irã, mas aguarda para ver se Teerã irá abandonar seu programa nuclear.
Entre os alvos em uma eventual operaçã0 dos Estados Unidos, segundo as fontes ouvidas pela reportagem do WSJ, estaria a usina nuclear de Fordow, escondida sob uma cadeia de montanhas nos arredores da cidade sagrada de Qom, no centro do Irã, e um dos pontos mais secretos e impenetráveis do programa nuclear iraniano. A instalação subterrânea, segundo analistas militares americanos e europeus, opera a quase 90 metros de profundidade e abriga 2.700 centrífugas avançadas capazes de enriquecer urânio a 60% — um patamar que, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pode ser convertido em combustível para até nove ogivas nucleares em menos de um mês.
Mais cedo, quando questionado se já havia decidido se atacaria as instalações nucleares do Irã, Trump se negou a dar uma resposta. “Talvez eu faça isso”, disse ele a repórteres no gramado da Casa Branca. “Talvez eu não faça isso. Quer dizer, ninguém sabe o que eu vou fazer.”
O presidente também ressaltou que o Irã “deveria ter feito o acordo” — as tratativas tiveram início em abril e foram suspensas após os bombardeios israelenses. A sexta rodada estava prevista para o último domingo em Omã.
Os comentários enigmáticos estão sendo observados de perto. Aliados e inimigos buscam pistas sobre suas intenções, enquanto os ataques cruzados entre Israel ao Irã não dão sinal de arrefecimento. A perspectiva de envolvimento direto dos Estados Unidos na guerra já aumentou os temores de uma guerra total no Oriente Médio, que pode arrastar outros países da região, e gerou divergências entre os apoiadores republicanos do presidente.