Enquanto o governo parece jogar com empenho para perder as eleições presidenciais de 2026, a oposição, pelo seu lado, também não demonstra maior preparo para vencer. O país assiste, atônito, a um tabuleiro político em que sobressaem a confusão governamental e a desarticulação oposicionista — um vácuo de liderança que compromete qualquer expectativa de renovação consistente no cenário eleitoral.
Do lado governista, o retrato é de desorientação. O ministério é marcado não apenas por idas e vindas em decisões estratégicas, como tropeça diante da deterioração fiscal e se submete a um Congresso cada vez mais autônomo e assertivo. A condução política carece de coesão e propósito, enquanto pesquisas revelam uma desaprovação crescente que corrói a base de sustentação do governo.
A aliança governista, desmotivada e fragmentada, cobra espaços e favores. A impopularidade obriga o Palácio do Planalto a ensaiar uma série de “pacotes de bondades” com recursos escassos e efeitos eleitorais duvidosos.
“O Brasil pode estar caminhando para uma eleição marcada pela negação do presente e pela ausência de um projeto de futuro”
Na oposição, a situação não é mais alentadora. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue como o grande fiador da direita, mas desenvolve uma estratégia clara: alongar artificialmente até o limite do calendário uma candidatura que sabe ser irrealizável para poder aparecer como vítima do sistema. O drama da perseguição pode, eventualmente, se converter em capital político. Mas tampouco é um movimento garantido.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome que se apresenta com o maior potencial competitivo do centro e da direita, aparentemente demonstra mais interesse em consolidar sua reeleição do que em entrar na disputa nacional. Sua postura cautelosa mantém o campo da oposição órfão de uma liderança eleitoralmente viável. Outros nomes, como o dos também governadores Ratinho Jr. (Paraná) e Romeu Zema (Minas Gerais), circulam nos bastidores, mas nenhum, até agora, demonstrou ter uma densidade política comparável. A velha máxima se impõe: quando há muitos candidatos, é sinal de que ainda não há nenhum de fato.
O cenário que se desenha é o de uma pré-campanha caracterizada por atropelos. Tal situação reflete uma crise mais profunda no sistema político brasileiro, onde o personalismo prevalece sobre a construção programática e o imediatismo eleitoral se sobrepõe ao planejamento estratégico.
O que está em jogo transcende a mera sucessão presidencial — trata-se da demonstração de uma elite política esgotada, incapaz de oferecer alternativas consistentes diante dos desafios nacionais. O Brasil pode estar caminhando, mais uma vez, para uma eleição marcada pela negação do presente e pela ausência de um projeto de futuro. Espero estar errado.
Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948