O Catar é palco nesta segunda-feira, 15, de uma cúpula emergencial com países da Liga Árabe e da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) após os bombardeios de Israel a Doha, capital catari, na semana passada. Obtido pela agência de notícias Reuters, um rascunho da declaração conjunta, que será divulgada ao final do encontro, condena os “atos hostis de Israel, incluindo genocídio, limpeza étnica e fome” por ameaçarem “as perspectivas de paz e coexistência”. A resolução também delineará medidas concretas contra Tel Aviv.
A operação, que marcou o primeiro ataque já registrado contra o território soberano de um país do Golfo Pérsico, matou seis membros do grupo palestino radical Hamas. Os militantes estavam em Doha para negociações de um acordo de cessar-fogo — o Catar é um dos principais mediadores da guerra na Faixa de Gaza. Autoridades do Hamas mantêm presença na capital catari desde 2011, quando a Casa Branca de Barack Obama solicitou que o governo local estabelecesse um canal secreto com o grupo.
Após o bombardeio a Doha, Netanyahu acusou o governo catari de abrigar terroristas, mandando um recado: “Eu digo ao Catar e a todas as nações que abrigam terroristas: ou os expulsam ou os levam à justiça. Porque se vocês não fizerem isso, nós o faremos”. A retórica bélica foi reforçada ministro da Defesa, Israel Katz, que alertou que “braço longo (de Israel) agirá contra seus inimigos em qualquer lugar”.
“Não há lugar onde eles possam se esconder”, escreveu Katz no X, antigo Twitter, acrescentando: “Todos os que participaram do massacre de 7 de outubro serão responsabilizados integralmente. Qualquer um que pratique terror contra Israel será prejudicado.”
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Resposta do Catar
Em meio à escalada das tensões na região, o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim al-Thani, afirmou na última quarta-feira, 10, que o ataque das forças israelenses a Doha “matou qualquer esperança” para os reféns ainda mantidos em Gaza. Acredita-se que apenas 20 dos 57 sequestrados mantidos pelos militantes ainda estejam vivos — no final de agosto, Israel conseguiu recuperar um corpo e restos mortais de dois reféns.
Em entrevista à emissora americana CNN, o premiê catari definiu o bombardeio como “terrorismo de Estado” e defendeu que o seu homólogo israelense, Benjamin Netanyahu, “precisa ser levado à Justiça”. Ele também acusou Netanyahu de “desperdiçar” o tempo do Catar e que reavaliaria “tudo” sobre o papel do país como mediador do conflito, iniciado em 7 de outubro de 2023.
O Catar é considerado um dos mais importantes parceiros de Washington fora da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O país abriga a maior base militar dos Estados Unidos no Oriente Médio, com pelo menos 10 mil soldados. No domingo, 14, o presidente americano, Donald Trump, disse que “o Catar tem sido um grande aliado”, acrescentando: “Israel e todos os outros, temos que ter cuidado. Quando atacamos pessoas, temos que ter cuidado”.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, já havia advertido que Trump “não gostou da maneira como (o ataque ao Catar) ocorreu”, enquanto embarcava para uma viagem a Israel. No domingo, ele se reuniu com Netanyahu em Jerusalém, quando disse disse que o Hamas “precisa deixar de existir como um elemento armado que pode ameaçar a paz e a segurança” no Oriente Médio.