counter Caso Master: Banqueiro Daniel Vorcaro sai de cena cravando um triste recorde – Forsething

Caso Master: Banqueiro Daniel Vorcaro sai de cena cravando um triste recorde

A prisão do banqueiro Daniel Vorcaro, em novembro, marcou o ápice de um ano atípico para o mercado financeiro. Deflagradas por forças-tarefas compostas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pela Receita Federal e por órgãos estaduais, as operações Carbono Oculto, Compliance Zero e Poço de Lobato expuseram esquemas bilionários de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, ocultação de patrimônio e outros “serviços” prestados por financistas a “clientes” que desejam permanecer nas sombras. O que chamou atenção foi a sofisticação crescente dessas engrenagens: empresas de fachada, laranjas, estruturas societárias em cascata e uma trilha de transações desenhada para confundir os órgãos de controle. Em uma das frentes investigadas, o dinheiro sujo teria circulado por uma rede de postos de combustível associada ao Primeiro Comando da Capital (PCC) até desembocar em fintechs, gestoras e fundos encarregados de “limpar” os recursos e devolvê-los ao circuito formal. A mensagem das investigações não deixou dúvidas: o crime organizado aprendeu a falar a linguagem do mercado financeiro.

No episódio envolvendo Vorcaro, que deixou a prisão com tornozeleira eletrônica, o que a Operação Compliance Zero revelou causa, no mínimo, perplexidade. Segundo a Polícia Federal, o Banco Master, instituição controlada por Vorcaro desde 2018, recebeu 12 bilhões de reais com a venda de uma carteira fictícia de crédito ao Banco de Brasília (BRB), pertencente ao governo do Distrito Federal. Para ocultar a fraude, o Master alegou ao Banco Central que os créditos vendidos ao BRB teriam sido gerados por instituições financeiras como a Tirreno e a Cartos, apontadas pela PF como meras empresas de fachada. A lógica revelada pelas investigações era simples: criar uma origem “formal” para papéis que, na prática, não existiam, dando aparência de atividade regular.

Esses créditos fictícios, por sua vez, também sustentavam os CDBs oferecidos pelo banco a pessoas físicas, com promessas de retornos muito acima da média do mercado, o que ajudou a turbinar a captação de recursos e atrair centenas de milhares de investidores. Quando o castelo de cartas começou a balançar, Vorcaro articulou a venda do Master ao BRB e mobilizou aliados influentes no Congresso para pressionar o Banco Central a chancelar a operação. A pressão rapidamente ganhou contornos de chantagem: a tropa de choque política ameaçou a aprovação de uma lei que daria à Câmara poder para demitir diretores do BC em nome dos “interesses nacionais”. Quando a liquidação extrajudicial foi decretada, o Master acumulava 41 bilhões de reais de dívidas, com mais de 1,6 milhão de pessoas que aplicaram em seus CDBs “anabolizados”, atraídas pela promessa de ganho fácil. Famoso por exibições despudoradas de riqueza, Vorcaro saiu de cena cravando um triste recorde: o socorro a ser provido pelo Fundo Garantidor de Créditos aos detentores desses papéis tende a ser o maior da história.

Publicado em VEJA de 24 de dezembro de 2025, edição nº 2976

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