A Casa Branca afirmou nesta quarta-feira, 1º de outubro, que milhares de funcionários federais poderão começar a perder seus empregos já “dentro de dois dias” caso a paralisação do governo dos Estados Unidos se prolongue. O aviso partiu da porta-voz Karoline Leavitt, que responsabilizou os democratas pelo impasse orçamentário no Congresso.
Segundo Leavitt, secretária de Imprensa da Casa Branca, o presidente Donald Trump determinou que seu gabinete elaborasse um plano de cortes. “As demissões são iminentes. Às vezes é preciso fazer o que não queremos, e isso acontece porque os democratas nos colocaram nessa posição”, afirmou. Atualmente, cerca de 750 mil servidores considerados não essenciais já estão afastados sem remuneração, mas a ameaça de cortes definitivos amplia a tensão em Washington.
O vice-presidente J.D. Vance também reforçou o alerta e direcionou as críticas à oposição. “Se os democratas estão tão preocupados com o efeito que isso tem sobre o povo americano, o que deveriam fazer é reabrir o governo. Não reclamar da forma como respondemos”, declarou. Vance fez um apelo direto para que parlamentares democratas aceitem um acordo que evite as demissões em massa.
A paralisação
Por falta de consenso entre republicanos e democratas na lei orçamentária, o governo entrou em paralisação nesta quarta-feira, o que significa que uma série de serviços federais estão suspensos até que uma legislação seja aprovada. O “shutdown” impacta uma variedade de serviços, podendo levar a atrasos em voos e na liberação de documentos de viagem para estrangeiros e à falta de funcionários em parques federais e museus, o que deixa margem para vandalismo se permanecerem abertos a visitação.
Trata-se da 15ª paralisação desde 1981, um mecanismo típico da política americana: sem aprovação de uma lei de gastos no Congresso, setores inteiros do serviço público ficam suspensos até que haja acordo.
No último “shutdown”, ocorrido no primeiro mandato de Trump, em 2018, as atividades ficaram suspensas por 35 dias, o período mais longo já registrado na era moderna dos EUA. Agora, o republicano ameaça cortes “irreversíveis” de programas de assistência médica e benefícios sociais. Entenda o que está em jogo na paralisação.
A escala dos danos econômicos vai depender, em parte, da duração da paralisação – e de sua abrangência. No geral, analistas esperam que esta possa ser maior do que a última, em 2018. Estima-se que o atual shutdown pode reduzir em cerca de 0,1 a 0,2 ponto percentual o crescimento econômico a cada semana – embora grande parte desse valor possa ser recuperada depois que o governo voltar a funcionar normalmente.
O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) estimou que a paralisação de 2018-2019 reduziu a produção econômica em cerca de US$ 11 bilhões, incluindo US$ 3 bilhões que nunca foram recuperados. A grande diferença, desta vez, é que Trump ameaçou demitir – não apenas afastar temporariamente – alguns trabalhadores, o que tornaria o impacto mais duradouro.
Fora isso, o presidente passou os últimos nove meses cortando drasticamente a força de trabalho federal. O contexto também é mais desfavorável, já que estamos falando de uma economia já afetada por turbulências como tarifas e inteligência artificial, com o provável atraso de dados importantes – como o relatório mensal oficial de empregos dos EUA –, o que deve aumentar a incerteza.