Depois de dois anos aberta ao público, a Casa Azul (sede presidencial da Coreia do Sul e símbolo histórico do poder em Seul, inaugurada em 1948) se prepara para fechar novamente seus portões. A partir de amanhã, o palácio que recebeu 12 presidentes ao longo da história deixará de ser atração turística: o recém-empossado presidente Lee Jae-myung decidiu fazer da residência oficial seu lar e gabinete. A transformação do espaço em ponto turístico foi, desde o início, marcada por um contexto político inusitado. Em meio a uma crise institucional, o então presidente Yoon Seok-Yeol afastado por impeachment após declarar Lei Marcial recusou-se a morar na sede por influência de seu xamã, rompendo com uma tradição que atravessa décadas. Pela primeira vez, o local ficou aberto à visitação.
A Casa Azul, até então envolta por rígidas medidas de segurança, passou a receber turistas curiosos para conhecer os bastidores da política coreana. Agora, o ciclo se encerra. A decisão do novo presidente devolve à casa seu papel original: o de centro do poder do país. A Casa Azul foi inaugurada no mesmo Dia da Independência, mas três anos depois. Comemorada no feriado chamado Dia da Libertação, a independência ocorreu em 1945, já a inauguração foi em 1948. O imóvel abriga diversos prédios, mas a construção principal se chama simplesmente “Prédio Principal”. É lá onde o presidente vai trabalhar. O prédio foi construído em 1991 e tem traços da arquitetura tradicional coreana. Já a residência presidencial é uma casa hanok com horta e jardim. Antigamente, ela era tanto casa como gabinete do presidente, que ficava no segundo andar da casa. Tem formato em “L” e no portão de entrada da construção há uma placa com três caracteres chineses que transcreve em coreano “insumun”, que significa “o portão que confere uma vida saudável e virtuosa a todos que por ele passam”.
O complexo da Casa Azul conta com um total de dez construções, incluindo três Patrimônios Culturais Materiais da Unesco: o Chinmyugak, uma casa tradicional hanok do século XX; o Ounjeong, um pavilhão do século XX que tem uma placa (que significa “as nuvens de cinco cores, o mundo dos Taoístas Imortais”) gravada pelo primeiro presidente da Coreia, Rhee Seungman; e o mais importante para a história da Coreia, postulado como Tesouro Nacional desde 2018: a estátua do Buda sentado e o Pedestal Quadrado de Gyeongju, um escultura budista do século IX, do período da Dinastia Silla Unificada. Ela foi levada de Gyeongju a Seul na época colonial japonesa e permanece até hoje na Casa Azul, em uma parte quase escondida, mais perto do alto da montanha.
A brasileira Milena Abreu, mestranda em Tecnologia da Educação na Konkuk University, vive em Seul há um ano. Quando soube que a Casa Azul fecharia suas portas ao público, ela não pensou duas vezes. Conseguiu garantir sua visita dias antes do encerramento. E a experiência, segundo ela, foi como atravessar um portal da história, testemunhar o fim de um capítulo inédito:
“ Ir à Casa Azul foi como realizar um sonho que eu não sabia que tinha. A sede presidencial coreana é um lugar muito simbólico, por marcar a fase da Coreia pós-invasão japonesa, é como um símbolo de superação e também uma força unicamente sul-coreana. Mas, antes do ex-presidente decidir não morar no local, eu nunca imaginaria que poderia realmente conhecer os diversos salões e espaços da Casa Azul. Me senti muito privilegiada por estar aqui exatamente nesse curto período em que a casa esteve aberta, ainda mais porque as visitas são autorizadas apenas com reservas e eu consegui um dos últimos ingressos (que foram gratuitos). Conhecendo a cultura coreana, pude perceber como todos elementos da Residência Presidencial foram pensados em representar a Coreia do Sul com seus símbolos culturais tradicionais sem deixar de ser um espaço moderno e encantador. Sou fã da cultura e história coreanas e ficarei para sempre marcada por essa experiência única, certamente mostrarei essas fotos para meus filhos e netos!”, disse Milena, que é niteroiense.
Curiosidades sobre a Casa Azul
A Casa Azul serviu como escritório presidencial e residência de 15 de agosto de 1948, que foi a data oficial da inauguração do governo da República da Coreia, até o dia 9 de maio de 2022. Durante esse período, 12 presidentes viveram e trabalharam lá. Desde que abriu a suas portas para o público no dia 10 de maio de 2022, a Casa Azul transformou-se de um símbolo de poder político a um espaço onde visitantes podem experiência a história moderna da Coreia.
1948: o primeiro presidente se mudou para a Gyeongmudae (nome do local na época)
1961: o nome mudou para Cheongwadae, decisão do presidente Yun Bo-Seon.
1963: grandes mudanças foram feitas pelo presidente Park Chung-Hee. Renovações e expansões de diversas construções, criação do jardim Nokjiwon, e do hall de recepção de convidados Yeongbingwan.
1990: nova residência presidencial e construção do centro de imprensa Chunchugwan (pelo Presidente Roh Tae-woo).
1991: construção do prédio principal (presidente Roh Tae-woo)
1993: demolição do antigo prédio principal (presidente Kim Young-sam)
2022: abertura da Casa Azul para o público.
Quem quiser conhecer virtualmente a Casa Azul, o site oficial: oficial: https://www.opencheongwadae.kr/html/guidemap/guidemap-eng.html