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Carta ao Leitor: Um debate urgente

O Brasil vive hoje o seguinte paradoxo: nunca se discutiu tanto na política, em níveis cada vez mais exaltados e polarizados, mas pouco vêm se discutindo com a devida profundidade os temas importantes e fundamentais para o país. Faltam equilíbrio e bom senso. Sobram oportunismo e corporativismo. Muitas vezes, a pauta do Legislativo é sequestrada por assuntos que dizem respeito a interesses de determinados grupos, como na atual tentativa de parte dos parlamentares de fazer avançar no Congresso os projetos do fim do foro privilegiado e da anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de Janeiro. Raras vezes há consenso sobre um problema e seu real sentido de urgência na busca de uma solução para ele. Felizmente, isso vem ocorrendo agora em torno do necessário combate à rede criminosa que ameaça os menores de idade na internet.

Essa prioridade surgiu a partir da publicação de um vídeo de cinquenta minutos produzido pelo youtuber Felipe Bressanim Pereira, mais conhecido como Felca, denunciando pessoas que abusam da imagem de jovens nas redes. Ele contabilizou rapidamente mais de 30 milhões de visualizações e jogou luzes sobre o influenciador Hytalo Santos, que é investigado desde o fim do ano passado pela Promotoria da Paraíba por suspeita de exploração de crianças e adolescentes na rede. A denúncia de Felca também discorre sobre como os algoritmos atuam a serviço dos lucros das plataformas digitais, direcionando e recomendando imagens do gênero para pessoas que, ao navegar pela rede, demonstram interesse por esse tipo de conteúdo. Quanto mais cliques, mais dinheiro no caixa. O dado mais chocante é que há pais contribuindo para esse sistema. Em troca de receber algum dinheiro das empresas digitais pela audiência gerada, eles acabam expondo os próprios filhos aos pedófilos de plantão.

Conforme mostra reportagem desta edição, a repercussão do vídeo de Felca causou uma imediata e oportuna reação do Congresso. O presidente da Câmara, Hugo Motta, criou um grupo de trabalho e prometeu priorizar a pauta. Em três dias, os deputados da Casa apresentaram nada menos que 52 projetos de lei contra a adultização e a exploração infantil na internet, todos eles com o objetivo de apertar o cerco às plataformas com relação aos sistemas de controle. Várias propostas caminham no sentido de proibir a monetização de peças digitais cujo tema central seja a imagem ou a participação de menores. Entre os que apresentaram sugestões encontram-se desde políticos do PT, como Erika Kokay, até parlamentares do PL, como Nikolas Ferreira. Ou seja, a pauta virou suprapartidária: esquerda e direita concordam na urgência e na forma de abordagem do problema. Trata-se de um exemplo de como é possível fazer discussões sérias e de alto nível na política, com o foco no que realmente importa: os interesses da sociedade brasileira.

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2025, edição nº 2957

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