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“Capital natural é a base da economia”, diz Ana Lúcia Grizzi

A governança climática e de sustentabilidade deixou de ser uma questão de boa prática empresarial para se tornar obrigação regulatória no Brasil. Em entrevista ao videocast VEJA+Verde, Ana Lúcia Grizzi, conselheira independente especialista em clima e natureza, coordenadora do Comitê de Sustentabilidade e Inovação da Votorantim Cimentos e membro do Conselho Consultivo da LACLIMA, detalha como as empresas brasileiras estão se adaptando a um cenário de regulamentações mandatórias que incorporam riscos e oportunidades climáticas nos negócios.

“Hoje, eu tenho demandas regulatórias para serem cumpridas que incorporam riscos e oportunidades de clima e natureza”, explica Grizzi, ao destacar a evolução ocorrida nos últimos cinco anos. O marco regulatório começou pelo setor financeiro, com o Banco Central publicando em 2021 um pacote de normas ESG obrigatórias para instituições financeiras. Posteriormente, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tornou mandatório para empresas de capital aberto os novos relatórios financeiros de sustentabilidade e clima, baseados em padrões internacionais, com vigência a partir de 2027.

A especialista enfatiza que essa transição vai além de questões político-partidárias, representando uma necessidade prática dos negócios. “Não é uma discussão política, de partidário, o que eu acho bom, o que eu não acho bom. É prática, é negócio”, afirma Grizzi. Segundo ela, o mercado de trabalho já reflete essa mudança, com alta demanda por analistas ambientais e profissionais especializados em ESG, sigla em inglês para “ambiental, social e governança”. “A gente tem um volume de vagas abertas para analistas ambientais, júnior, pleno e até sênior, muito alto”, destaca, mencionando que as empresas estão contratando engenheiros ambientais, biólogos, advogados, administradores e economistas para essas funções, contrariando narrativas de retrocesso no setor.

O conceito de capital natural ocupa posição central na visão da consultora sobre a economia brasileira. “Capital natural é a base da economia”, destaca Grizzi, referindo-se aos recursos naturais como biodiversidade, água e florestas. Para ela, o Brasil possui vantagens comparativas únicas que podem se tornar competitivas: “A gente tem um país em termos de capital natural mega diverso. Como se pode aproveitar essa vantagem comparativa e, de fato, torná-la uma vantagem competitiva?”

Grizzi critica a falta de proatividade do país em comunicar suas vantagens ambientais, especialmente no agronegócio, que representa dois terços do PIB brasileiro. “Por que a gente não é proativo em mostrar dados e fatos sobre o agro?”, questiona, argumentando que o Brasil deixa o mundo criar percepções negativas sobre suas atividades econômicas em vez de apresentar dados concretos sobre práticas sustentáveis como agricultura tropical, plantio direto e múltiplas safras anuais.

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A realização da COP30, a conferência do clima da ONU, em Belém (PA) representa uma oportunidade para o Brasil consolidar sua liderança em soluções baseadas em natureza. “Essa sem dúvida nenhuma é a nossa grande vantagem para a COP30”, conclui Grizzi, destacando a inovação da presidência brasileira em integrar ministros da fazenda às discussões climáticas, conectando competências econômico-financeiras com questões ambientais para canalizar capital para a transição energética e bioeconomia.

Com apresentação de Diogo Schelp, editor de VEJA NEGÓCIOS, VEJA+Verde traz entrevistas com empresários, personalidades, gestores públicos e especialistas sobre sustentabilidade e meio ambiente e faz parte do projeto VEJA na COP30.

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