Obesidade, diabetes e psoríase têm um elemento em comum. Ambas as doenças são marcadas por um processo inflamatório crônico que, com o tempo, pode lesar as artérias e encurtar a expectativa de vida. E, justamente devido a essa característica, a trinca de problemas encontrou um inimigo em comum: os análogos de GLP-1, classe de medicamentos representada por semaglutida (Ozempic, Wegovy…) e tirzepatida (Mounjaro).
É o que podemos tirar de conclusão de um novo estudo, publicado no periódico British Journal of Dermatology, que demonstrou um efeito especialmente positivo dessas medicações injetáveis de uso semanal hoje aprovadas para controle do peso e da glicemia em pacientes com a doença na pele.
A análise retrospectiva de dados de mais de 3 000 indivíduos, liderada pela Universidade de Lübeck, na Alemanha, esmiuçou o impacto do uso dos análogos de GLP-1 prescritos para tratar a obesidade ou o diabetes tipo 2 em pessoas que também conviviam com a psoríase e os comparou à população tratada que não apresentava a condição dermatológica.
O estudo descobriu que a ação protetora dos remédios contra doenças cardiovasculares e mortalidade precoce em um período de ao menos dois anos foi significativamente mais pronunciada entre pacientes que apresentavam psoríase. A ponto de, na conclusão do trabalho, os autores afirmarem que “os médicos deveriam considerar essa classe de drogas em pacientes com psoríase e comorbidades como obesidade ou diabetes”.
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A psoríase e as canetas como a semaglutida
A psoríase é uma doença de base inflamatória caracterizada pela formação de placas avermelhadas e descamações na pele em diversos locais do corpo, incluindo o couro cabeludo. Sabe-se que, devido à inflamação, pessoas sem o tratamento adequado ficam mais expostas também a problemas cardiovasculares e outras complicações.
Cientes de que os análogos de GLP-1, que ajudam a regular a saciedade e a glicemia, também possuem um efeito anti-inflamatório, pesquisadores estão investigando se medicações como a semaglutida poderiam agregar ao tratamento da condição cutânea.
No estudo alemão, também apresentado no encontro da Academia Europeia de Dermatologia, em Paris, os cientistas observaram que o uso regular das canetas promoveu a saúde física e mental, reduzindo índices de mortalidade em geral, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral e dependência de álcool e outras drogas – e esse impacto foi ainda maior entre pessoas com psoríase, no comparativo com quem não vive com a doença.
Embora existam pesquisas avaliando a repercussão dessa classe farmacológica nas lesões de pele, o novo trabalho foi saudado pelos especialistas devido ao seus efeitos no bem-estar e nas condições gerais dos pacientes, uma vez que eles estão mais suscetíveis a desordens cardiovasculares e psiquiátricas.
Enquanto a ciência busca decifrar os mecanismos por trás dos benefícios revelados, os principais fabricantes da categoria investem em estudos para dimensionar o potencial dos análogos de GLP-1 diante da psoríase. Tanto a Novo Nordisk, responsável pelo Ozempic e o Wegovy, quanto a Eli Lilly, do Mounjaro, possuem linhas de pesquisa avaliando o efeito de suas drogas na contenção da enfermidade dermatológica e de suas complicações.