O voto do ministro Luiz Fux, que defendeu a tese de que a ação penal sobre a trama golpista que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro não deveria tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF), provocou reações imediatas do relator do processo, Alexandre de Moraes. Durante a sessão desta quarta, 10, da Primeira Turma, Moraes recorreu em vários momentos a auxiliares para receber novos documentos e reforçar suas anotações.
O ministro pediu ao menos quatro levas de papéis, a última entregue dentro de um envelope. Em outra ocasião, no período da tarde, recebeu um calhamaço de folhas que acomodou ao lado da Constituição, já aberta sobre a mesa. Ele parecia preparar terreno para rebater ponto a ponto a fala de Fux, que se estendeu das 9h e, às 16h30, ainda não havia terminado.
Munido de uma caneta vermelha e de dois marcadores de texto, o ministro dedicou-se a grifar trechos dos documentos e a tomar notas em silêncio, enquanto o colega sustentava que não havia provas de que os acusados agiram de forma organizada ou emitiram ordens para as invasões.
Desconforto entre ministros da Primeira Turma
As reações de Moraes se somam ao desconforto visível de outros ministros da Turma. Dino, com a mão no queixo, acompanhava em silêncio, enquanto Cármen Lúcia fazia anotações constantes. Apenas Cristiano Zanin olhava com mais frequência para Fux, ainda que de forma intercalada com consultas a um laptop.
O contraste entre os votos já proferidos evidencia o choque de interpretações dentro do Supremo. Para Moraes e Dino, há uma “avalanche de provas” demonstrando a articulação golpista. Para Fux, falta materialidade suficiente para sustentar as condenações.
Os ministros seguiram o combinado de não interromper o voto de Fux, e sequer acionaram os microfones que têm em cada uma das mesas. Os aparelhos estão abaixados, como se os magistrados não pretendessem de fato usá-los.
O movimento silencioso do relator, colecionando documentos e notas, sugere que a resposta a esse embate ainda está em construção — e promete ser central na reta final do julgamento.