A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos vai votar, nesta quarta-feira, 12, um projeto de lei para encerrar o shutdown mais longo da história do país, que paralisou diversos serviços do governo federal há 42 dias devido a um impasse no Congresso para a aprovação do orçamento do próximo ano fiscal. O presidente da casa legislativa, o republicano Mike Johnson, instruiu os deputados a retornarem a Washington após um recesso de 53 dias.
Diferente do acordo que os republicanos tiveram que costurar com os democratas para passar a medida no Senado, o partido do presidente Donald Trump só precisa se manter unido agora, sem dissidências, para prescindir de apoio bipartidário — mas a margem de erro é mínima, já que a sigla controla a maioria da Câmara por uma margem de apenas cinco assentos, e só pode perder dois votos para fechar a conta. Depois disso, para cumprir o rito, o projeto segue para sanção presidencial.
Ira dos democratas
Enquanto isso, muitos no Partido Democrata prometeram se opor ao projeto que estenderá o financiamento do governo federal temporariamente, até 30 de janeiro. Grande parte dos membros da legenda expressou insatisfação com os oito democratas centristas que emprestaram seus votos para que a medida fosse aprovada no Senado na segunda-feira 10, em troca de pouquíssimas salvaguardas às exigências da oposição.
O shutdown começou porque os democratas se recusaram a apoiar um projeto de lei orçamentária avançado pelo Partido Republicano em outubro, a menos que o texto incluísse também uma série disposições sobre saúde. A principal era a extensão dos subsídios que reduzem o custo do seguro saúde sob o Affordable Care Act, também conhecido como Obamacare, que vão expirar no final deste ano.
No Senado, a bancada centrista do Partido Democrata fechou um acordo para votar a favor da extensão do financiamento para o governo, em troca do compromisso do líder republicano da casa, John Thune, de pautar em dezembro uma votação sobre a extensão dos subsídios de saúde — sem garantia de que será aprovada. Também faz parte do acordo a recontratação de funcionários federais demitidos por Trump durante a paralisação, bem como a prerrogativa de que os trabalhadores que pararam de receber salário nesse período de 42 dias sejam pagos retroativamente.
Muitos no Partido Democrata chamaram tal acordo de “traição”, e grupos progressistas chegaram a pedir a renúncia de Chuck Schumer, líder da minoria democrata no Senado. Na semana passada, a legenda de oposição obteve uma série de vitórias em eleições locais, com campanhas centradas na questão da economia e redução do custo de vida — da qual saúde faz parte integral. Se os subsídios do Obamacare expirarem, milhões de americanos devem enfrentar aumentos acentuados em seus planos de saúde ou perder completamente a cobertura oferecida pelo mercado de seguros.
Hakeem Jeffries, líder da minoria na Câmara, recentemente apresentou junto a um grupo de democratas progressistas uma emenda que estenderia os créditos tributários do Obamacare por três anos. A proposta foi rejeitada pelo Comitê de Regras da Câmara, controlado pelos republicanos, na noite de terça-feira 11.
“Devido à recusa dos republicanos em estender os créditos tributários do Affordable Care Act, em meio a uma crise do custo de vida já existente que eles não conseguiram resolver, o acesso à saúde para pessoas em todo o país está prestes a se tornar inacessível”, pontuou Jeffries.