Não é preciso de nenhum número oficial para atestar: quem gosta de café e acompanha seu preço nas prateleiras dos supermercados ou nos balcões de restaurantes e padarias sabe que se trata de um pequeno hábito que encareceu desproporcionalmente nos últimos tempos. Os números, de toda forma, atestam a impressão: a inflação do café está entre as campeãs dos últimos anos
Os números do IPCA, o indicador oficial de preços ao consumidor calculado pelo IBGE, mostram que, nos 12 meses até maio, dado mais recente, o preço do pacote de café nos supermercados subiu 82%. É a maior alta entre os cerca de 400 produtos e serviços que o IBGE acompanha mensalmente em dezesseis cidades para calcular a inflação média do país. Desde o início de 2020, quando o espraiamento da pandemia de Covid-19 pelo mundo levaria a um choque global de preços, o aumento acumulado no pacotinho de café no Brasil é de 231%. Quer dizer, ele mais que triplicou de preço. Considerado o total desses cinco anos, é a segunda pior alta, atrás apenas da tangerina, também de acordo com a série do IPCA.
Tão refém do aumento desse insumo quanto os consumidores, os restaurantes, cafeterias e outros estabelecimentos que têm o cafezinho em seu cardápio também sofreram, e, mesmo que repassando as altas para a mesa em proporções bem menores, reajustaram os preços: o preço do cafezinho nesses estabelecimentos sobe 17% nos últimos 12 meses e 62% desde o início da pandemia.
As razões para as altas explosivos passam por uma combustão de fatores que incluíram uma grande quebra de safra por questões climáticas em 2023 e 2024 no Brasil, o maior produtor e segundo maior exportador de café do mundo, além de um aumento enorme nas exportações, que fazem o produto cultivado aqui competir com os preços mais altos, e em dólar, pagos no resto do mundo. Em 2024, as exportações de café brasileiras bateram o recorde histórico, de acordo com os dados da Abic, a Associação Brasileira da Indústria do Café. As vendas do produto para fora cresceram 22% no ano passado e chegaram a 50,6 milhões de sacas pela primeira vez. Em 2019, antes do início da pandemia, este número estava em 40 milhões e, em 1990, quando começa a série da Abic, era de 16 milhões de casas anuais.
Os números mais recentes de inflação trazem tanto boas quanto más notícias com relação ao preço do café: a boa é que há sinais de que o preço dele pode começar a cair nas prateleiras nos próximos meses. A má é que, mesmo assim, a correção deve ficar bem longe de zerar tudo o que subiu. Dados da inflação no atacado, ou seja, dos preços dos produtores às indústrias e ao varejo, mostram quedas em meses mais recentes.
No IGP-10, índice de preços da Fundação Getulio Vargas divulgado nesta segunda-feira, 16, o café em grão aparece com queda de 5,8% neste mês no atacado. A inflação no atacado é um termômetro do que tende a acontecer, com alguns meses de defasagem, depois para o consumidor, conforme os novos produtos começam a chegar ao vaejo.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da escola de agricultura da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), que acompanha as safras e preços dos principais produtos agrícolas cultivados no Brasil, também mostram que, ao menos no campo, os preços do pico já ficaram para trás conforme a nova safra já começa a ser colhida. A saca de 60 quilos do grão do café do tipo robusta, um dos que têm as quedas mais fortes, estava custando em média 1.514 reais em maio. Entre dezembro e fevereiro, esse preço chegou a passar dos 2.000 reais por saca.