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Cadeira vazia: EUA não enviarão nenhum representante de alto escalão à COP30

A poucos dias dos líderes mundiais desembarcarem em Belém do Pará, para discutir o futuro do planeta na COP30, a cadeira reservada aos Estados Unidos permanecerá vazia. Não por erro logístico, conflito de agenda ou crise doméstica. Mas por decisão política deliberada. A Casa Branca confirmou que nenhum representante de alto escalão americano participará da conferência.

O governo brasileiro confirmou nesta sexta-feira, 31, que a Argentina também ficará de fora. Com a nova ausência, a previsão oficial é de que cerca de 57 chefes de Estado e de governo compareçam à cúpula de líderes na próxima semana, número inferior ao inicialmente esperado pelo Itamaraty, e bem abaixo das cúpulas de Glasgow (120) e Dubai (140). A COP na floresta ainda pode ter impacto histórico; mas o teatro de poder está menos lotado que o previsto.

A ausência dos EUA marca a primeira COP em três décadas sem a presença de um emissário de nível ministerial de Washington – nem presidente, nem vice, nem enviado especial, nem mesmo um subsecretário com status diplomático. O governo Trump argumenta que o país “não precisa de fóruns multilaterais para discutir energia”, já que mantém “diálogo direto” com aliados e adversários.

Desde seu retorno ao poder, em janeiro, o republicano ampliou subsídios à exploração doméstica de petróleo e gás, afrouxou regulações ambientais, desmontou metas de transição energética e passou a usar o setor como instrumento de pressão internacional. Oficiais do governo têm ameaçado retaliações comerciais contra países que adotarem mecanismos de precificação de carbono ou barreiras verdes. Internamente, a decisão agrada à coalizão política que o sustenta: petroleiras texanas, mineradoras do Meio-Oeste, sindicatos da indústria pesada e eleitores ressentidos com o discurso “ecológico de elite”.

Enquanto os EUA se retiram, China e União Europeia ocupam o vácuo normativo. Para ambos, a ausência americana é um presente diplomático: menos resistência e mais espaço para moldar as regras do jogo. A cúpula amazônica, que deveria reforçar o multilateralismo, corre o risco de cristalizar um novo desenho de poder: um mundo onde a governança climática existe, mas sem os Estados Unidos.

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Há quem minimize o impacto imediato da ausência americana. Afinal, a história mostra que nenhum acordo climático de peso avançou sem o dinheiro, o poder de negociação ou a influência geoeconômica dos Estados Unidos. Mas, diferentemente de 2017, quando Trump abandonou o Acordo de Paris pela primeira vez, desta vez as engrenagens da transição já funcionam sem Washington. Os mercados de crédito de carbono se expandem, fundos soberanos desinvestem de petróleo e carvão, e grandes construtoras substituem o cimento convencional por materiais de baixo carbono. O mundo, ainda que lentamente, está descobrindo que pode continuar movendo-se mesmo quando os EUA deixam a mesa.

Para o Brasil, anfitrião da conferência, a ausência é incômoda. O governo Lula planejou a COP30 como o grande evento de reposicionamento internacional do país: uma COP na Amazônia, sob a liderança de um presidente que se vende como articulador do Sul Global, capaz de negociar entre China, Europa e EUA.

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