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Cada vez mais venezuelanos voltam para seu país após anos no exterior; entenda

Aproximadamente 7,7 milhões de pessoas deixaram a Venezuela desde a última década, de acordo com dados das Nações Unidas. Motivados a fugir pela intensa crise política e financeira que se abateu sobre o país sul-americano, muitos imigraram para outras nações em busca de uma vida melhor. No entanto, por razões que vão desde preocupações com xenofobia a saudades de entes queridos, vários estão regressando à terra natal.

De acordo com um relatório divulgado pelos governos do Panamá, Costa Rica e Colômbia, mais de 14 mil imigrantes, a grande maioria venezuelanos, que se dirigiram aos Estados Unidos — um dos principais destinos da diáspora — decidiram retornar aos seus respectivos países após o início da cruzada do presidente Donald Trump contra a imigração. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados apontou que, hoje, sete em cada dez venezuelanos que chegam ao Panamá afirmam desejar voltar para casa.

Entre as causas, está o crescimento do sentimento anti-imigrantes em muitos países outrora vistos como destinos atrativos; a saudade dos entes queridos; e até mesmo a percepção de que a economia da Venezuela tem se recuperado nos últimos anos — embora a repressão política siga forte, com a perseguição a opositores do ditador Nicolás Maduro renovada após ele ser declarado vencedor das eleições presidenciais no ano passado em meio a amplas acusações de fraude.

“Era uma vida muito solitária”, contou Eduardo Rincón, de 24 anos, à agência de notícias Bloomberg. Após se mudar para Miami com o pai e o irmão, ele passou a trabalhar na recepção de um hotel, onde seu salário de US$ 4 mil ajudava a sustentar sua mãe, que permaneceu na Venezuela.

Dois anos depois, o jovem foi informado pelo Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) que o status de liberdade condicional de sua família foi revogado e que a deportação era iminente. “Decidimos ficar juntos e voltar”, contou Rincón, que agora recebe US$ 600 por mês em uma empresa de plástico na capital venezuelana, Caracas.

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“Parece que estamos condenados a escolher entre uma vida melhor economicamente, mas sem família e amigos, e uma vida mais pobre, mas cercada por entes queridos”, resumiu o jovem, que estabeleceu um prazo de um ano para deixar o país novamente caso as coisas não melhorem.

A desilusão com o futuro da Venezuela foi ecoada pelo advogado Juan, de 54 anos: “A situação é horrível, a situação econômica da Venezuela é a pior e o governo é o pior que poderia nos acontecer em 26 anos”, disse ele à Bloomberg. Depois de fugir ao Peru, ele voltou à terra natal após não ter tido sucesso encontrando empregos com boa remuneração. 

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Fim do sonho

Um dos destinos mais almejados por quem deixava a Venezuela era os Estados Unidos. No entanto, a volta de Donald Trump à Casa Branca mudou completamente a vida para imigrantes de origem hispânica no país. Se tornou comum ver agentes da temida polícia de imigração americana, o ICE, patrulhando as ruas e realizando operações amplas para deportar quem está lá ilegalmente — e, às vezes, legalmente também. O clima se tornou hostil, com mais de 13 mil venezuelanos sendo expulsos do país.

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Depois de ser informado pelo DHS que deveria se “autodeportar” caso quisesse preservar o direito de retornar aos Estados Unidos no futuro, o venezuelano Santi Añez decidiu embarcar em uma viagem de 20 dias de Chicago, onde estava morando, até Maracay, sua cidade natal, localizada nos arredores de Caracas. Segundo ele, não era saudável suportar “o estresse de possivelmente ser detido, deportado e impedido de voltar”.

A situação se tornou grave o suficiente a ponto de que os famosos coiotes, contrabandistas que levavam pessoas para dentro do território americano, fossem requisitados a fazer o movimento contrário: guiarem imigrantes dos Estados Unidos para outros países, como México ou Colômbia. Um coiote entrevistado pela Bloomberg relatou cobrar US$ 2.500 para transportar gente a Medellín ou à Cidade do México, com a possibilidade de retornar por terra à Venezuela por uma taxa extra de US$ 100.

Outro reflexo da repressão foi o aumento da demanda por passagens aéreas. Na agência de viagens de Helshy Campos, em Maturín, no leste da Venezuela, o número de solicitações disparou desde o início das políticas trumpistas. 

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