Localizado no coração da galáxia Ferradura Cósmica (Cosmic Horseshoe), um buraco negro com cerca de 36 bilhões de vezes a massa do Sol pode ser o maior já identificado no universo. A descoberta, descrita na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, foi possível graças a um método que une o efeito de lentes gravitacionais ao estudo da velocidade das estrelas próximas, permitindo medir gigantes mesmo quando estão inativos.
O buraco negro está em uma galáxia tão massiva que distorce o espaço-tempo ao seu redor, criando um fenômeno chamado anel de Einstein. Nesse efeito, a luz de uma galáxia mais distante é curvada e ampliada, formando um arco ou círculo quase perfeito — no caso, com a aparência de uma ferradura, o que deu nome à galáxia.
Para calcular o tamanho do buraco negro, os cientistas combinaram esse efeito com medições de cinemática estelar — ou seja, analisaram a velocidade e o movimento das estrelas nas regiões mais internas da galáxia. Essas duas técnicas, usadas juntas, permitiram obter uma estimativa mais precisa do que em métodos anteriores.
Quão grande é esse buraco negro?
Com 36 bilhões de massas solares, ele está próximo do limite teórico para o tamanho que um buraco negro pode atingir no universo. Para comparação, o buraco negro no centro da Via Láctea, chamado Sagitário A*, possui “apenas” 4 milhões de massas solares — quase 9 mil vezes menor.
O objeto descoberto é classificado como um buraco negro ultramassivo, um tipo ainda mais raro que os buracos negros supermassivos. Segundo os pesquisadores, trata-se de um buraco negro “adormecido” — ou seja, não está atualmente consumindo matéria e emitindo energia intensa, como ocorre nos quasares. Sua presença só foi detectada devido à gravidade extrema que exerce.
O que torna essa galáxia especial?
A Ferradura Cósmica é considerada um grupo fóssil, um estágio final na evolução de aglomerados galácticos. Isso significa que, ao longo de bilhões de anos, ela absorveu praticamente todas as galáxias vizinhas brilhantes, tornando-se uma única e gigantesca galáxia elíptica.
Os cientistas acreditam que o buraco negro central seja o resultado da fusão de vários buracos negros supermassivos que antes ocupavam as galáxias menores que se fundiram à Ferradura Cósmica. O sistema está localizado a cerca de 5 bilhões de anos-luz da Terra — tão distante que seria impossível medir seu tamanho com técnicas tradicionais, caso ele não produzisse o efeito de lente gravitacional.
Por que essa descoberta importa?
Compreender o tamanho e a origem de buracos negros ultramassivos ajuda a entender a própria evolução das galáxias. Astrônomos suspeitam que exista uma relação direta entre o crescimento desses objetos e o desenvolvimento das galáxias que os abrigam. Quando recebem grandes quantidades de matéria, eles podem liberar energia suficiente para interromper a formação de novas estrelas.
O estudo também abre caminho para detectar outros buracos negros gigantes e “silenciosos” em diferentes pontos do universo. Os pesquisadores pretendem usar dados do telescópio espacial Euclid, da Agência Espacial Europeia, para identificar mais exemplos e investigar como eles influenciam seus arredores.