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Buquê de sabor

Nesta época mais fria, ele está pronto para ser consumido. Mas, na verdade, ao longo do ano todo você o encontra, em qualquer supermercado, mesmo que seja congelado. Imagine uma receita e você consegue usá-lo como base. Bolinho para o petisco? Dá para fazer. Nuggets para o jantar, purê para o acompanhamento, torta ou muffin também, e sem farinha. Não é nenhum ingrediente mágico. Estou falando dos brócolis.

Essa verdura hoje tão difundida no mundo todo foi por um longo tempo uma especialidade italiana. Os antigos romanos já eram fãs dela, especialmente quando preparada com vinho, azeite e cominho. Mas ainda hoje, a culinária local se orgulha desse ingrediente que surgiu como uma erva mediterrânea, mas foi sendo domesticada por agricultores etruscos há mais de 25 séculos. No país todo ele é adotado em massas, sopas e mesmo cru, em salada; mas é no salto da Bota, na Apúlia, que ele ganha sua expressão maior, nas “orecchiete com cime di rapa”, que une a massa típica da região e uma variedade local da hortaliça.

Diferentemente de outras couves, que foram por séculos relegadas aos estábulos, compondo ração de porcos e outros animais de criação, os brócolis sempre tiveram lugar à mesa dos humanos. A versão mais comum surgiu na Calábria, onde foi batizada de “broccolo” diminutivo de “brocco”, que significa “raminho” ou “rebento”. Em inglês adotou-se o plural, “broccoli”, e daí também deriva o português “brócolis”.

Foi só nos séculos XVI e XVII que começaram a aparecer em hortas em outros países europeus, mas ainda recebida como uma curiosidade. Os britânicos apreciavam especialmente os talos, que chamavam de “aspargos italianos”. Na outra margem do Canal da Mancha, houve menos benevolência. Para os franceses aquela couve rústica pertencia mais à cozinha do camponês do que à da elite, que preferia a alva couve-flor. Isso adiou sua entrada nos livros de gastronomia refinada.

Já do lado de cá do Atlântico, um jovem entusiasta da agricultura e dos experimentos botânicos de nome Thomas Jefferson anotou em seus caderninhos que estava plantando aquela verdura exótica. Uma década antes de se tornar um dos pais da nação americana, ele já cultivava brócolis a partir de sementes europeias em sua fazenda na Virgínia.

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Mas foi só há cerca de cem anos que os brócolis perderam a aura de raridade nos Estados Unidos. Imigrantes italianos elevaram sua produção à escala industrial e, a partir dos anos 1980, a hortaliça, cheia de vitaminas e fibras e pouco calórica, foi definitivamente abraçada pela boa alimentação.

Alguns torcem o nariz para o odor característico que ele libera ao ser cozido, talvez sem saber que ele vem de um de seus ativos antioxidantes mais importantes. Outros, por sua vez não conseguem ver que ele tem muitas qualidades gastronômicas, não só nutricionais. A primeira questão se resolve pingando umas gotas de limão na água. A segunda, com um tanto de criatividade.

Levando a imaginação um pouco além da necessária para chamá-los de “mini árvores” na hora de introduzi-los às crianças, os brócolis podem ser um verdadeiro buquê de saúde e, mais, de sabor.

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