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Bukele não é suficiente

A operação policial que provocou a morte de 121 pessoas nos morros do Alemão e Penha no Rio de Janeiro tem o impacto de mudar o ritmo da eleição de 2026. Sequestrados nos últimos meses pelos interesses da família Bolsonaro, os governadores de direita ganharam a oportunidade para surfar num tema em que Lula da Silva é fraco. É possível ganhar uma campanha para presidente apenas com o discurso da mão pesada sobre o crime?

A resposta envolve o exemplo do controverso presidente de El Salvador, Nayib Bukele, autointitulado “o ditador mais legal do mundo”. Em 2022, Bukele colocou o país sob estado de emergência para combater duas facções criminosas, a Mara Salvatrucha, conhecida como MS-13, e a Barrio 18. O índice de homicídios despencou de 36 para 1,9 a cada 100 000 habitantes — o menor da América Latina. A vitória foi resultado de um processo de prisões em massa, que em menos de três anos colocou quase 10% da população jovem masculina atrás das grades, a maior taxa de encarceramento do planeta. El Salvador tem hoje, proporcionalmente, a maior população carcerária do mundo, com 1.600 presos por 100 mil habitantes.

A maior parte dos 85 mil presos em El Salvador nunca foi julgada e há toneladas de evidências de que Bukele aproveitou seus poderes para prender adversários políticos e chantagear empresários. O governo Biden acusou Bukele de ter, secretamente, feito um acordo com o MS-13 para reduzir os homicídios. No governo Trump, Bukele se tornou um parceiro estratégico por ser o único a aceitar receber nas suas prisões imigrantes expulsos dos EUA.

É fácil para um candidato a senador ou deputado brasileiro defender os métodos Bukele, mas é preciso um grande esforço para imaginar que a maioria da população brasileira estaria disposta a dar poderes ditatoriais em troca de mais segurança. El Salvador tem uma população menor que o Maranhão e depende completamente do dinheiro enviado ao país pelos mais de 2,5 milhões de imigrantes nos EUA.

Existe na sociedade uma exaustão com o avanço do crime — e isso é visível no aplauso da maioria à ação policial no Rio. De acordo com pesquisa presencial Genial/Quaest apenas entre os moradores do Estado do Rio, 64% apoiaram a ação policial. 73% dos eleitores fluminenses acham que o estado deveria fazer outras operações similares e a aprovação ao governador Cláudio Castro cresceu 10 pontos percentuais. Como seria de se esperar, a avaliação positiva foi maior entre os que se declaram bolsonaristas (93%) e de direita (92%) do que entre lulistas (35%) e os que se identificam a esquerda (27%).

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Há um segundo dado da pesquisa, contudo, que precisa ser avaliado. Após a operação, somente 35% dos moradores do estado do Rio se sentem mais protegidos e outros 52% afirmam estar menos seguros do que antes. Além disso, 74% relatam temer ações de retaliação dos traficantes. Seis de cada dez eleitores fluminenses consideram que o Estado do Rio não tem capacidade de enfrentar as facções. A recente popularidade de Castro, portanto, tem a densidade da fumaça de um fuzil.

Bancar apenas o discurso da mano dura é um risco. Em São Paulo, o Estado mais eficiente do Brasil, o governador Tarcísio de Freitas e o secretário de Segurança, Guilherme Derrite, comandaram nos verões de 2023 e 24 duas longas operações de combate ao PCC na Baixada Santista. Em 2024, o número de mortos em confronto por policiais no Estado cresceu 61%, com um total de 814 vítimas civis e 32 agentes de segurança. Isso não impediu o PCC de seguir agindo como se estivesse acima da lei, como nos assassinatos do delator Vinicius Gritzbach dentro do aeroporto de Cumbica e do ex-delegado geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz, em Praia Grande.

Será preciso mais que o discurso Bukele para a oposição vencer a eleição.

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