A China vive um boom de brinquedos equipados com inteligência artificial, que conversam, ensinam e até “criam laços” com as crianças. De acordo com a Associação da Indústria de Brinquedos de Shenzhen e empresa chinesa de comércio eletrônico JD.com, o setor deve ultrapassar 100 bilhões de yuans (cerca de 14 bilhões de dólares) até 2030, tornando-se um dos ramos que mais crescem no mercado de consumo de IA no país.
Entre os destaques está o BubblePal, pequeno dispositivo que se acopla a pelúcias e as faz “falar”. Lançado pela startup chinesa Haivivi, o produto usa modelos de linguagem da DeepSeek, a mesma empresa que desafiou o domínio da OpenAI, e já vendeu 200 mil unidades desde o verão passado. Outro exemplo é o FoloToy, que permite aos pais treinar o brinquedo para falar com a própria voz. A empresa registrou 20 mil vendas apenas no primeiro trimestre de 2025 e prevê fechar o ano com 300 mil unidades.
Como a China virou o epicentro dos brinquedos com IA?
O avanço reflete a aposta de Pequim em se tornar uma potência global de tecnologia até 2030, com investimentos bilionários em inteligência artificial e robótica. O país abriga mais de 1.500 empresas dedicadas ao desenvolvimento de brinquedos inteligentes, segundo o banco de dados Qichamao, e o governo incentiva a integração de IA em produtos educacionais desde o ensino primário.
O BubblePal é vendido também nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil, e empresas como FoloToy já exportam para mais de dez países. O sucesso internacional demonstra a capacidade da indústria chinesa de produzir em larga escala e a baixo custo, com apoio de grandes plataformas de e-commerce como Taobao e JD.com, que registraram aumento de seis vezes nas vendas de brinquedos com IA entre janeiro e fevereiro deste ano.
O que explica o crescimento tão rápido
A popularidade desses brinquedos é alimentada por pais interessados em soluções educacionais e recreativas sem telas, que prometem interação e aprendizado personalizados. Ao mesmo tempo, o fenômeno se apoia na infraestrutura tecnológica do país: com cerca de 1 bilhão de usuários de smartphones, a China possui uma base de dados imensa para treinar sistemas de IA voltados à linguagem infantil.
Estudos de mercado estimam que, se esses produtos alcançarem entre 20% e 25% das famílias chinesas até 2028, o setor poderá movimentar até 40 bilhões de yuans. O governo também incentiva a produção local de chips e componentes eletrônicos, reforçando o objetivo de autossuficiência tecnológica diante das restrições impostas pelos Estados Unidos.