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Brasil vira prioridade global da Heineken em nova fase de expansão

O Brasil é uma superpotência global quando o assunto é consumo de cerveja, atrás apenas dos chineses e dos americanos. Cerca de 15 bilhões de litros da bebida alcoólica são comprados anualmente no país, segundo levantamento da Kirin, holding japonesa que monitora o segmento desde 1975. Apesar do tamanho, o mercado nacional cresce pouco — apenas 1,4% em 2024, conforme os dados mais recentes disponíveis — em meio a mudanças relevantes em hábitos de consumo. Não faltam oportunidades de expansão, contudo, para empresas bem posicionadas. Foi com essa visão que a holandesa Heineken investiu uma quantia expressiva, cerca de 2,5 bilhões de reais, para a construção de uma nova fábrica em Minas Gerais, inaugurada no último mês de novembro. Trata-se da primeira unidade produtiva aberta pelo grupo no mundo em cinco anos, evidenciando a posição de liderança conquistada pelo Brasil no negócio.

Linha de produção da nova fábrica: investimento de 2,5 bilhões de reais
Linha de produção da nova fábrica: investimento de 2,5 bilhões de reaisFábio Rezende/.

A grande aposta é ganhar espaço na fatia mais rentável do mercado. Quando a Heineken desembarcou no país, há quinze anos, o principal segmento da marca respondia por menos de 4% do consumo nacional. “Hoje, quase 24% de todas as cervejas consumidas no Brasil vêm da categoria premium”, afirmou o presidente da companhia no país, Mauricio Giamellaro, durante a inauguração da nova fábrica em Passos, município situado entre Belo Horizonte e São Paulo. “Temos a certeza de que aqui vale colocar mais investimento.” A expansão acelerada desse nicho levou o Brasil, em 2019, a se tornar o principal mercado consumidor de Heineken no mundo.

A ascensão das cervejas de primeira linha se mistura à história recente da Heineken no Brasil, o que não surpreende: o grupo responde por cerca de dois terços do segmento puro malte no país, segundo levantamento realizado pela própria companhia. “Estamos colhendo os frutos de ter tornado o público brasileiro mais afeito a esse tipo de produto”, afirma Rodrigo Bressan, vice-presidente de produção da empresa no Brasil. Atualmente, as duas principais marcas de seu portfólio são Heineken e Amstel, uma puro malte de preço mais competitivo que também tem o mercado brasileiro como o seu principal. Outras marcas, como Eisenbahn e Baden Baden, voltadas a nichos de consumidores que não se importam em pagar mais por cervejas semiartesanais, foram incorporadas em 2017, em um acordo de 3,4 bilhões de reais com a Kirin. A nova fábrica em Passos será dedicada exclusivamente às cervejas Heineken e Amstel e abrirá espaço para reforçar a produção de Eisenbahn em outras unidades, em mais uma jogada da companhia.

arte Heineken

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A Heineken enfrenta no segmento premium um concorrente de peso: a Ambev. Com base nos dados mais recentes, do terceiro trimestre deste ano, a companhia brasileira afirma ter registrado crescimento expressivo nesse nicho e diz liderar as vendas nos últimos meses, com participação próxima de 50%. A disputa entre os dois gigantes se intensificou especialmente após a chegada da alemã Spaten ao país, em 2021, um movimento calculado para avançar sobre um território tradicionalmente associado à Heineken. Em pouco tempo, o Brasil se tornou o principal mercado global da Spaten, repetindo o roteiro vivido pela concorrente holandesa. Diante do avanço da rival, a Heineken decidiu dobrar sua aposta no país.

A fábrica recém-inaugurada tem capacidade para produzir 500 milhões de litros por ano, volume que deve ser alcançado em meados de 2026. Com isso, a companhia, que já opera outras onze unidades de grande porte no país, ampliará em cerca de 10% sua produção nacional. O projeto se soma a uma sequência de aportes recentes no Brasil, que inclui a modernização de unidades em estados como Paraná e Pernambuco, entre outros, totalizando 6 bilhões de reais em sete anos. A expansão em Minas Gerais é, de fato, estratégica: o estado é hoje o maior consumidor de Heineken no Brasil e funciona como porta de entrada para outros grandes mercados do Sudeste. “É uma região relevante para nós, e teremos uma redução nos custos de distribuição”, afirma Bressan.

O CEO global Dolf Brink: “O Brasil traz crescimento para nós”
O CEO global Dolf Brink: “O Brasil traz crescimento para nós”Fábio Rezende/.
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Segundo o executivo, cerca de 120 000 latinhas de cerveja sairão por hora das linhas de Passos, volume que supera a população da cidade, de 112 000 habitantes. Pisar tão fundo no acelerador pode parecer um movimento contraintuitivo para uma marca neste momento: pesquisas apontam redução no consumo de álcool, sobretudo entre os mais jovens. A maioria dos brasileiros (64%) declara não ter ingerido uma única gota de bebida alcoólica em 2025, um avanço de 9 pontos percentuais em relação a 2023, de acordo com um levantamento do instituto de pesquisa Ipsos-­Ipec. A tendência é mais forte entre moradores de áreas metropolitanas do Sudeste, com ensino superior e pertencentes às classes A e B.

arte Heineken

Especialistas avaliam que a queda no consumo de álcool não representa, necessariamente, um freio para todas as cervejarias. “A inovação é o que dá resiliência ao setor”, afirma Ana Paula Tozzi, diretora-­executiva da AGR Consultores. Dois tipos de produto despontam como os mais promissores: cervejas premium e rótulos sem álcool, ambos em trajetória de crescimento nos últimos anos. “No passado, era impensável ter cerveja e vinho no mesmo evento social, mas isso mudou com a chegada das marcas premium”, afirma Tozzi. Além disso, a cerveja costuma ser vista como uma opção menos agressiva que os destilados, por seu teor alcoólico menor, o que reduz a resistência de consumidores mais atentos à saúde e ao bem-estar.

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As mudanças recentes de hábito fizeram com que cerveja e álcool deixassem de ser necessariamente sinônimos. “A Heineken sabe disso e tem o seu produto zero álcool muito bem posicionado”, afirma Cristina Souza, presidente da consultoria Tanjerin, especializada em mercado de alimentos e bebidas. A versão sem álcool da Heineken lidera o segmento, segundo a Nielsen, que aponta que um em cada dez lares brasileiros já consome cervejas sem álcool.

A fábrica recém-inaugurada: a empresa dobrou a aposta no Brasil
A fábrica recém-inaugurada: a empresa dobrou a aposta no BrasilFábio Rezende/.

O foco em cervejas de alto padrão e em alternativas não alcoólicas indica que a Heineken não está remando contra as novas tendências ao ampliar sua produção, mas tentando capitalizá-las. Após cinco anos sem inaugurar fábricas, o CEO global do grupo, o holandês Dolf van den Brink, veio ao Brasil para celebrar a nova unidade e reforçar sua visão de longo prazo. “Estamos confiantes que o Brasil ainda representa muito crescimento para nós”, afirmou durante o evento, em novembro. “Não estamos pensando nos próximos cinco anos, mas nos próximos cinquenta anos.” Numa indústria em que o copo tende a ficar mais vazio, o prognóstico da Heineken é que uma parte decisiva do futuro da cerveja — com mais valor agregado e menos álcool — será servida a partir do Brasil.

Publicado em VEJA, dezembro de 2025, edição VEJA Negócios nº 21

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