Cotadíssimo para assumir a Secretaria-Geral da Presidência do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) é visto com ressalvas entre os quadros do Partido dos Trabalhadores (PT), principalmente dentro da ala paulista que defende movimentos mais ao centro, sobretudo mirando a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ampliação de mandatos da legenda em 2026.
A leitura dessa fatia petista é a de que a disputa não será fácil e que a vitória da sigla deverá levar em consideração, necessariamente, a construção de uma frente ampla, progressista e que dialogue com o centro — aos moldes do que foi colocado de pé na campanha de 2022. Nesse sentido, a avaliação é a de que a figura de Boulos destoaria do perfil minimamente “moderado” para a tarefa.
Soma-se a esse fator o histórico de discordâncias do ala paulista em relação ao crescente protagonismo que Boulos tem assumido dentro das fileiras petistas. Pela primeira vez desde a sua criação, em 2024 o PT decidiu não lançar candidato próprio à Prefeitura de São Paulo, a maior cidade do país — e que comandou com Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad — para apoiar a candidatura de ninguém menos do que… Boulos.
O psolista desbancou o outsider Pablo Marçal (PRTB), chegou ao segundo turno e enfrentou Ricardo Nunes (MDB), fazendo pouco mais de 41% dos votos contra 58% do prefeito reeleito. Mesmo assim, foi alvo de “fogo amigo” no PT. À época, o também deputado federal Jilmar Tatto (SP), secretário nacional de Comunicação do partido, afirmou que a sigla poderia ter feito um esforço em direção a Nunes e que o gesto poderia garantir uma “situação mais confortável” para o PT em 2026, com uma possível retribuição do emedebista. Tatto defendeu, ainda, que todos os candidatos vitoriosos do PT na capital tinham perfil mais ao centro, com exceção de Erundina, e que a unidade do partido era necessária para frear o avanço da direita nas periferias.
Ativos
Ao mesmo tempo, lideranças petistas ouvidas por VEJA ponderam que, apesar de ser ainda uma aposta, a iminente chegada de Boulos à Esplanada pode agregar ao governo Lula.
O primeiro ponto, e que fez Boulos ganhar pontos com o presidente, foi o envolvimento do psolista nos protestos contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia no último fim de semana, que foram considerados um grande sucesso. Ele já havia sido bem avaliado por suas articulações para os desfiles de 7 de Setembro. A leitura, nesse quesito, é a de que a interlocução e capacidade de liderança de Boulos junto aos movimentos sociais serão ativos importantes na campanha de 2026.
Essa atuação, inclusive, deverá ter um peso maior principalmente em um momento em que ministros importantes devem deixar a Esplanada em abril do ano que vem para disputar a eleição, entre eles Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil) e Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais).
Com Boulos já tendo sinalizado que não deseja renovar seu mandato na Câmara, é uma “segurança” a mais tê-lo de forma contínua no governo, avaliam petistas.
Ao mesmo tempo, esses mesmos quadros ponderam que o cenário atual é diferente daquele de 2022, que a construção de uma frente ampla não será tão “simples” e que o PT acerta em investir “de cabeça” em um discurso de esquerda.
“O centro não está fechado conosco, eles estão em peso com o Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo]. Então não adianta querermos nos dobrar para fazer aliança com eles. O presidente Lula acerta em fazer essa escolha do Boulos, o partido precisa voltar a ouvir as ruas, conversar com as bases, fazer nossa mensagem chegar”, diz um aliado.