Liderando o quinto lugar das séries mais assistidas do momento na Netflix, Boots tem se mostrado um grande sucesso entre o público, recebida pela crítica com um índice de 93% de aprovação no Rotten Tomatoes. A partir de uma narrativa que mistura drama e comédia, a série conta a história de Cameron Cope (Miles Heizer), um adolescente gay não assumido que se alista impulsivamente no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos após ser vítima de bullying. Para além do sucesso com a estreia, a produção também envolve um fato interessante: trata-se de uma adaptação da história real de Greg Cope White, contada em seu livro de memórias The Pink Marine.
Publicada em 2016, a obra relata a experiência de Cope White durante o tempo em que serviu às Forças Armadas dos EUA, em 1979 — 15 anos antes de o lema “Don’t Ask, Don’t Tell”(Não pergunte, não conte) ser adotado como o posicionamento oficial do serviço militar a respeito da homossexualidade. No período retratado pelo autor, ser gay ainda era considerado ilegal dentro do exército americano, o qual ele descreve como “o grande equalizador”.
Boots chega ao streaming como uma adaptação das memórias do ex-fuzileiro, criada por Andy Parker — o mesmo de Crônicas de San Francisco, série adaptada do clássico da literatura LGBTQIA+ Histórias de Uma Cidade — e protagonizada por Miles Heizer, que vive os conflitos de um jovem em busca de pertencimento em um ambiente ao mesmo tempo hostil e repleto de vulnerabilidades.
Um dos pontos centrais da trama gira em torno da figura do Sargento Robert Sullivan (Max Parker), uma autoridade do alto escalão militar que tem sua carreira ameaçada por investigações a respeito de sua sexualidade. A dinâmica entre a figura de poder do sargento e a subordinação de Cameron revela as tensões escondidas por trás dos personagens, que se mostram vulneráveis à medida em que tentam silenciar quem realmente são. “Nosso principal personagem gay certamente tem um segredo que traz riscos muito altos para ele naquele ambiente, mas todas as pessoas que ele conhece também têm algo a esconder ou um motivo para fugir”, diz o diretor.
Com oito episódios, a série se passa em 1990, 11 anos depois do período real retratado no livro de White. Nele, o autor conta que o motivo que o fez deixar os Fuzileiros Navais — após seis anos de serviços prestados — foi o desgaste emocional envolvido em ter que mentir constantemente sobre sua identidade, conflito também vivenciado pelo protagonista na adaptação: “O Corpo de Fuzileiros Navais é um lugar para encontrar seu verdadeiro eu […] Mas eu não podia ser meu eu verdadeiro e não conseguia continuar sendo falso com as pessoas que eu tanto admirava e respeitava”, contou o ex-fuzileiro.
Cope White foi um dos seis entre 72 recrutas promovidos a Cabo no serviço militar, recebendo uma especialização em comunicações antes mesmo de se formar. Se tornou grande defensor dos direitos LGBTQIA+, expressando abertamente suas opiniões e posicionamentos políticos nas redes sociais. Após deixar os Fuzileiros, tentou investir na carreira de ator, mas acabou seguindo o caminho da escrita, que já lhe rendeu roteiros produzidos para filmes e séries.
Mesmo acostumado a contar histórias de outros, White começou a relatar sua própria trajetória em um blog — que mais tarde deu origem ao livro The Pink Marine, publicado em 2016 e base para a série Boots. Ele também liderou a sala de roteiristas da adaptação da Netflix, ao lado de outros veteranos. Seu humor ácido e sensibilidade são visíveis em cada episódio, provando que sua voz e vivência são o coração da série.
Ao lado de outros veteranos, White contribuiu com a construção do roteiro da nova produção de Andy Parker, que revelou estar interessado na renovação da série para outras temporadas. O diretor ainda garantiu que novos impulsos dramáticos serão abordados na narrativa caso o projeto ganhe sequência.
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