Há entre 55% e 75% de probabilidade de que Jair Bolsonaro seja condenado no julgamento pela trama golpista ocorrida para tentar reverter o resultado das eleições de 2022, previsto para começar no próximo dia 2 de setembro.
Não fui eu que estimei, foram as IAs. Claro, porque eu pedi o grau de probabilidade. Mas, ainda assim, são números totalmente oriundos das máquinas. Elas indicaram que existe alta chance de condenação devido ao volume das evidências e ao andamento do processo. Essas estimativas não são cálculos estatísticos formais, mas projeções narrativas e especulativas, vale frisar.
Recrutei para a análise três dos modelos de IA mais eficientes do mercado: o ChatGPT-5, o Gemini 2.5 Flash e o Claude Sonnet 4. Poderia ter usado versões ainda mais refinadas, caso optasse por recorrer a algum dos serviços de inteligência artificial que assino, mas a proposta aqui era usar apenas versões gratuitas.
Como foi a participação das IAs
É importante descrever a metodologia que segui. Para garantir o máximo possível de isenção, criei uma conta nova de Gmail exclusivamente para esta reportagem, com o nome de José Silva. Usei a versão anônima do navegador Chrome e fiz login nas já referidas IAs. Não vou detalhar o prompt aqui porque era bem comprido – obter resultados eficazes das IAs requer descrições detalhadas do serviço a ser executado.
Bolsonaro será condenado? Aqui está a análise das IAs a respeito
Pedi que as IAs agissem como analistas políticos e jurídicos especializados nas leis e cenários brasileiros. Em seguida, cruzassem seus dados de treinamento com informações mais recentes sobre o caso para me entregar o grau de probabilidade da condenação. Era preciso também justificar a resposta.
Claude Sonnet 4
75% de plausibilidade de condenação e prisão. Justificativas:
- Processo maduro: Já passou por todas as fases preliminares com decisões unânimes
- Evidências robustas: Materialidade e indícios de autoria reconhecidos pelo STF em diversos materiais
- Gravidade dos crimes: Crimes contra a democracia com penas superiores a 30 anos
- Posição central do réu: PGR o identifica como “principal articulador” da trama
- Cronograma definido: Julgamento concentrado em setembro pode acelerar a decisão
Gemini
65% de plausibilidade de Bolsonaro vir a ser preso nos próximos 5 anos, unicamente com base neste processo. Fatores que Aumentam a Chance de Condenação:
- Delação de Mauro Cid: O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, fechou um acordo de delação premiada.
- Provas materiais: A Polícia Federal (PF) encontrou documentos, como a minuta de um decreto para a anulação das eleições e a prisão de autoridades, além de trocas de mensagens e áudios que indicam as intenções e estratégias do grupo.
- Depoimentos de militares: Ex-comandantes das Forças Armadas também teriam corroborado a existência de reuniões e a discussão de planos de golpe, reforçando a narrativa da acusação.
ChatGPT -5
55% de plausibilidade de prisão nos próximos 5 anos
O caso chega ao julgamento com acusação robusta e calendário intensivo, o que eleva o risco de condenação com pena privativa. Por outro lado, a execução de pena efetiva imediata pode ser adiada/mitigada por: dosimetria (regime inicial, substituições), eventuais embargos e pedidos para rediscussão em colegiado ampliado. Fatores que, neste processo, aumentam a chance de condenação:
- Lastro documental e narrativo coeso da PGR: denúncia e alegações finais descrevem cadeia de atos (organização; atos preparatórios; tentativa de consumação).
- Jurisprudência ambiente: o STF já consolidou que abolição violenta e golpe de Estado podem concorrer materialmente (não se consomem), elevando a moldura punitiva.
- Sinalização institucional: o caso foi priorizado com múltiplas sessões; medidas cautelares recentes (vigilância e restrições durante a domiciliar) foram justificadas pela iminência do julgamento, reforçando a gravidade vista pelo relator.
Tecnologia e o fazer jornalístico
Embora muitas vezes os modelos de IA entreguem resultados incorretos – as chamadas alucinações –, sua capacidade de análise de cenários costuma ser bem eficiente. Isso acontece porque os modelos são treinados com quantidades colossais de dados e programados para fazer cruzamentos eficientes. De quebra, podem complementar respostas com pesquisas na web sobre os fatos mais recentes. Mas, embora pareçam fazer mágica, é fundamental deixar bem claro que IAs não têm acesso a documentos sigilosos ou informações internas.
Acho importante reiterar que este texto é apenas um exercício para ver como essas tecnologias podem ser empregadas no fazer jornalístico. E, claro, repetir que a análise acima é nada mais que especulação. O princípio da presunção de inocência permanece válido até decisão judicial definitiva com trânsito em julgado.
