A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro por queimar a tornozeleira eletrônica para, segundo a Polícia Federal, fugir e buscar asilo em uma embaixada deve acelerar a definição do candidato da oposição em 2026.
Com a prisão temporária decretada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes no sábado, dia 22, caíram drasticamente as possibilidades de Bolsonaro obter em breve uma detenção domiciliar. Isolado na sala de 12 metros quadrados da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, o ex-presidente está pressionado a escolher o mais rápido possível quem será o seu preposto – lista reduzida ao filho mais velho, Flávio Bolsonaro, ou o governador Tarcísio de Freitas – antes que o desenrolar da campanha atropele a sua decisão.
Ao contrário do que supunha a família Bolsonaro, a indecisão do ex-presidente o tem enfraquecido. Desde a ação policial que deixou 121 mortos na zona norte do Rio, no fim de outubro, os governadores de direita tomaram para si a bandeira da segurança pública e ganharam autonomia sobre a família Bolsonaro.
Conta-se nos dedos os líderes da oposição que não foram agredidos verbalmente pelo terceiro filho, Eduardo Bolsonaro, por supostamente não se empenharem pela anistia do pai. Em Santa Catarina, um dos estados mais antipetistas do país, a direita local está se recusando a aceitar a imposição do segundo filho, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, como candidato a senador.
Como me disseram no domingo dois dirigentes de partidos do Centrão, o apoio do ex-presidente é muito importante para qualquer um que queira vencer Lula da Silva em 2026, mas a cada semana deixa de ser a condição sine qua non. Os dois políticos defendem a escolha de Tarcísio, mas temem que um Bolsonaro preso termine por optar por Flávio.
O tempo tem sido inclemente com Bolsonaro. Desde que Moraes decretou a sua prisão domiciliar, em setembro, a influência política do ex-presidente encolheu. As manifestações de rua pró-anistia fracassaram, a movimentação da direita radical do Congresso arrefeceu e Donald Trump virou a página sobre as sanções comerciais ao Brasil. O primeiro dia da prisão de Bolsonaro transcorreu como um domingo qualquer.
No domingo, dia 23, na audiência de custódia na Polícia Federal, Bolsonaro mudou a versão sobre os motivos que o levaram a queimar a tornozeleira com uma solda. Na nova versão, ele afirmou que começou a mexer com a tornozeleira “tarde da noite” e parou por volta da meia-noite entre sexta e sábado sob a ‘alucinação’ de que tinha alguma escuta na tornozeleira. Ele explicou que usou a solda porque “tem curso de operação desse tipo de equipamento”.
No sábado de manhã, à diretora-adjunta da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, Rita de Cássia Gaio Siqueira, depois da prisão, Bolsonaro havia dito que tentou danificar a tornozeleira “por curiosidade”, “lá pro final da tarde” de sexta-feira. A PF suspeita que o ex-presidente estava testando o tempo que levaria para a polícia registar o rompimento da tornozeleira para calcular qual o prazo que ele teria para chegar a alguma embaixada.
Os advogados de defesa apresentaram na audiência de custódia um boletim clínico informando que o ex-presidente “tem tomado medicamentos (Pregabalina, Sertralina, Clorpromazina e Gabapentina) receitados por médicos diferentes”, e cuja combinação teria causado a “sensação de paranoia”.
Nesta segunda-feira, 24, a primeira turma do STF vai confirmar a prisão temporária de Bolsonaro e negar os pedidos da defesa de transferência para a casa. No domingo, a única visita autorizada além dos advogados foi da mulher, Michelle. Os filhos Flávio e Carlos serão recebidos na terça-feira. Com a prisão, foi cancelado o calendário prévio de 26 visitas ao ex-presidente e que incluía Tarcísio de Freitas no dia 10.
Isolado, sem redes sociais para manter sua tropa unida, prestes ao início formal dos 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, sem perspectivas de um relaxamento da detenção, Bolsonaro está à deriva. No curto prazo, a sua melhor chance no Congresso é a aprovação do projeto da dosimetria, que reduziria parte da sua pena, aproveitando o momento ruim da relação de Lula com o Senado. No médio prazo, ele sabe que se Lula for reeleito, as chances de ter sua prisão relaxada antes de 2030 são nulas. A indecisão o enfraquece. O tempo corre contra Bolsonaro.