A bilionária Luana Lopes Lara enfrenta uma onda de cancelamento nas redes sociais nesta terça-feira, 9, após defender, em entrevista na noite de ontem à GloboNews, a meritocracia o sistema capitalista. No início de dezembro, Lara tornou-se uma celebridade mundial ao entrar para a lista da revista americana Forbes como a mais jovem bilionária do mundo a construir a própria fortuna do zero, em vez de herdar o patrimônio.
Em entrevista à GloboNews, Lara foi questionada sobre se ela acreditava que, se não tivesse nascido em uma família de classe média, mas sim em um situação de vulnerabilidade social, ela teria conseguido se tornar uma empresária de sucesso. Segundo a bilionária, mesmo que pertencesse a uma família pobre, ela teria atingido o mesmo patamar de riqueza. Para ela, deixar a classe média no Brasil e tornar-se bilionária nos Estados Unidos é um reflexo de seu próprio trabalho.
Na conversa, Lara afirmou que, quando se comparam o Brasil e os Estados Unidos, a classe média daqui apresenta um padrão de vida bem inferior ao de seus supostos pares americanos. “Por isso, chegar onde eu cheguei mostra que o capitalismo e a meritocracia funcionam”, disse.
A reação da internet foi imediata. No Twitter, usuários afirmaram que Lara deveria experimentar trabalhar na escala 6×1 em alguma loja. “Me assusta o tanto que pessoas de ricas não têm noção da desigualdade que existe no Brasil”, disse um dos internautas.

Outros usuários da plataforma foram ainda mais agressivos, com memes que a caracterizavam como uma “Barbie privilegiada”.

Procurada pela reportagem, Lara não se manifestou sobre assunto. Ela se tornou destaque internacional depois que a Kalshi, empresa que fundou nos Estados Unidos, alcançou um valor de mercado de 11 bilhões de dólares. Fundada em 2018 ao lado do sócio Tarek Mansour, também de 29 anos, a Kalshi opera como uma bolsa de valores, mas em vez de ações de empresas, os investidores compram e vendem contratos atrelados ao resultado de eventos futuros.
Uma bolsa de apostas no futuro com contratos tratando de diversos temas. Em árabe a palavra kalshi significa tudo. Cada contrato representa uma pergunta objetiva sobre eventos variados, como “a inflação dos EUA vai subir acima de X%?” ou “a taxa de desemprego ficará abaixo de Y?”.
A Kalshi paga 1 dólar aos usuários que acertam uma previsão. O preço desses contratos, que varia entre 1 centavo de dólar e 99 centavos, reflete as probabilidades implícitas atribuídas pelo mercado, fornecendo pistas sobre o eventual desfecho de alguns eventos. Um contrato precificado a 0,63 centavos de dólar indica que os investidores estão estimando 63% de chance de aquele evento ocorrer.
Como surgiu a ideia da empresa?
Luana nasceu no Brasil e estudou ciência da computação no MIT, onde conheceu Mansour, seu sócio. Ambos trabalharam em instituições financeiras como Goldman Sachs, Bridgewater Associates e Citadel. Foi ali que perceberam que grande parte das decisões de trading era, no fundo, uma aposta sobre o que aconteceria no futuro, mas os produtos disponíveis eram complexos e caros, baseados em pacotes de derivativos que apenas aproximavam a exposição desejada.
A pergunta que guiou a criação da Kalshi veio dessa observação: por que ninguém podia negociar diretamente um evento? Em 2018, os dois fundaram a empresa. Em 2019, lançaram a versão beta, e em 2020 receberam a aprovação como a primeira exchange oficial dos Estados Unidos focada em resultados de eventos.
Antes do Vale do Silício, Luana treinou na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, onde enfrentava jornadas diárias que iam de aulas acadêmicas pela manhã ao balé competitivo. Segundo reportagens publicadas nos últimos dias, ela convivia com episódios de disputa física entre colegas, como bailarinas que escondiam cacos de vidro nas sapatilhas umas das outras , e passava por testes de resistência em que professoras seguravam um cigarro aceso sob a coxa enquanto a aluna mantinha a perna erguida no ar.