O ex-presidente americano Joe Biden, que não tem dado muitos pronunciamentos públicos durante a Presidência do rival Donald Trump, quebrou o silêncio na noite de quinta-feira 31 com um discurso forte em que denunciou que o atual governo tenta “apagar a justiça” ao “perseguir grupos marginalizados”. Segundo ele, os Estados Unidos vivem uma crise existencial. As declarações foram dadas na 100ª Cerimônia de Premiação Anual da Ordem Nacional dos Advogados, em Chicago.
“Muitos de vocês lutaram para que este país vivesse à altura de seus ideais mais elevados”, disse Biden, destacando a importância de um Judiciário forte. “Desde os dias tumultuados da década de 1960 (movimento dos direitos civis), essa luta não era tão existencial para quem somos como nação, com grupos marginalizados tão dramaticamente sob ataque.”
Fundada em 1925, a Ordem Nacional dos Advogados é a maior e mais antiga rede de professores de direito, juízes e advogados dos Estados Unidos. O discurso de Biden se concentrou nas contribuições de advogados negros para a história dos direitos civis nos Estados Unidos e na necessidade de dar continuidade a esse legado, à luz de um governo que, segundo ele, “busca apagar a história, apagar a qualidade, apagar a própria justiça”.
“Vemos a aparente alegria de alguns de nossos políticos ao ver imigrantes que estão neste país legalmente arrancados dos braços de suas famílias, arrastados algemados do único lar que já conheceram”, disse o ex-presidente. “Meus amigos, precisamos encarar as duras verdades deste governo.”
Escritórios de advocacia que representam aqueles que se opõem à agenda do governo Trump foram alvo de ordens executivas do governo. Alguns se renderam, pagando dezenas de milhões de dólares para encerrar processos. Juízes federais, alvo cada vez mais frequente de ameaças, cogitam a criação de suas próprias forças de segurança.
“Vemos escritórios de advocacia cedendo à pressão, cedendo aos valentões, em vez de se manterem firmes na justiça da lei”, disse Biden.
Esta não foi a primeira palestra que o ex-presidente usou para criticar Trump. Em junho, ele alfinetou o atual governo durante uma celebração do Juneteenth, feriado que marca a emancipação dos escravizados nos Estados Unidos, na Igreja Metodista Episcopal Africana Reedy Chapel — um dos locais no Texas onde uma ordem proclamando o fim da escravidão foi lida em 19 de junho de 1865. No início deste mês, ele também proferiu um discurso crítico na conferência da Sociedade de Gestão de Recursos Humanos em San Diego.