O chanceler alemão, Friedrich Merz, provocou mal-estar diplomático nesta semana com falas polêmicas em que fez críticas a Belém, sede da COP30, onde esteve no dia 7, e disse que “todos ficaram contentes por termos retornado à Alemanha, especialmente daquele lugar onde estávamos”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rebateu afirmando ele deveria ter “ido num boteco”, dançado e provado a culinária local para “perceber que Berlim não oferece pra ele 10% da qualidade que oferece a cidade de Belém”.
Mas, afinal, como os locais se comparam nos indicadores de bem-estar?
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
A medida calculada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) avalia o progresso de um país nas áreas de saúde, educação e renda. Ela é usada para classificar cidades, nações e regiões de acordo com seu nível de desenvolvimento humano. O cálculo do IDH combina indicadores em um índice que varia de 0 a 1, onde valores mais próximos de 1 indicam um maior desenvolvimento.
Belém: 0,746 (2022)
Berlim: 0,977 (2023)
Expectativa de vida
O indicador demográfico considera a taxa de mortalidade em todas as idades, que dá dimensão das condições de saúde, mortalidade e qualidade de vida de um determinado local. A expectativa de vida é afetada por diversos fatores, como acesso a saneamento básico, avanços na medicina e condições socioeconômicas.
Belém: 76 anos (2023)
Berlim: 80,95 anos (2023)
Renda per capita
Média de renda anual por pessoa em um grupo populacional, calculada pela divisão do PIB total (de um país, estado ou cidade) pelo número de habitantes desse grupo. O indicador é usado para avaliar o poder de compra e o nível de desenvolvimento socioeconômico.
Belém: R$ 22.216,33 (2021)
Berlim: R$ 335.218,45 (2024)
Igualdade de gênero
O Índice de Desenvolvimento de Gênero (GDI, na sigla em inglês) mede desigualdades entre homens e mulheres a partir de indicadores locais de acesso à educação, saúde e padrão de vida. Um valor abaixo de 1 indica maior desigualdade de gênero para mulheres, ao passo em que números próximos ou maiores que 1 apontam maior paridade entre elas e eles.
Pará (não há índice por cidade): 1,001 (2023)
Alemanha: 0,986 (2023)
Emissão de CO2
Principal gás do efeito estufa, o dióxido de carbono é responsável por cerca de 75% do aquecimento global. Grande parte dessa emissão vem das atividades humanas, principalmente da queima de combustíveis fósseis para gerar eletricidade. A emissão de gás carbônico no estado de Berlim é mais de 680 vezes maior que no Pará, segundo o Global Data Lab.
Belém: 1.741 toneladas
Berlim: 1.185 milhões de toneladas
Saneamento básico
Conjunto de serviços públicos que inclui abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, além da drenagem e manejo das chuvas. Esses serviços são fundamentais para a saúde pública, a qualidade de vida, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento socioeconômico. Belém possui alguns dos piores indicadores de saneamento básico entre as capitais brasileiras.
Belém: 77% da população possui água tratada; 20% têm coleta de esgoto
Berlim: 100% da população possui água tratada; 93% têm coleta de esgoto
Qualidade do ar
Com dados atualizados diariamente, a empresa suíça IQAir, especializada em tecnologia da qualidade do ar, calcula pontuações que vão de 0 a 300+ com base em estatísticas de governos, instituições de pesquisa e organizações sem fins lucrativos. Quanto maior o número, mais poluído e insalubre é considerado o ar. De 0 a 50, a qualidade é considerada “boa”.
Belém: 28
Berlim: 42
A polêmica
Merz, que ocupa cargo equivalente ao de primeiro-ministro, inaugurou um mal-estar diplomático entre os países após comparar as belezas das cidades da Alemanha com as de Belém, palco da 30° Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30). Em vídeo que viralizou nas redes sociais, o chanceler explica que perguntou aos repórteres que o acompanharam no evento quais deles gostariam de permanecer na cidade amazônica. A resposta foi unânime: “Ninguém levantou a mão”, afirmou ele.
“Todos ficaram contentes por termos retornado à Alemanha na noite de sexta para sábado, especialmente daquele lugar onde estávamos”, acrescentou Merz no vídeo, disponibilizado no site oficial do Congresso Alemão do Comércio.
Na quarta-feira 19, ele voltou a falar da polêmica, afirmando que Lula precisa aceitar que a Alemanha é um dos países mais lindos do mundo.
“Eu disse que a Alemanha é um dos países mais lindos do mundo, e isso provavelmente o presidente Lula também vai aceitar”, afirmou Merz depois de um encontro com o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, em Berlim.
A fala gerou reações de políticos brasileiros, de ambientalistas e da membros da oposição no país europeu. O presidente Lula respondeu às críticas do chanceler afirmando ele deveria ter “ido num boteco no Pará”.
“O primeiro-ministro da Alemanha esses dias se queixou, ‘ai eu fui no Pará, mas eu voltei logo porque eu gosto mesmo é de Berlim’. Ele na verdade devia ter ido num boteco no Pará, ele na verdade deveria ter dançado no Pará, ele na verdade deveria ter provado a culinária do Pará, porque ele ia perceber que Berlim não oferece pra ele 10% da qualidade que oferece o estado do Pará e a cidade de Belém”, disse Lula.
Porta-voz para políticas climáticas do Partido Verde alemão, a deputada Lisa Badum enviou uma carta a Merz para exigir que ele se desculpe com Lula e a população de Belém pelas críticas que fez à cidade.
“Em vez de reconhecer a inspiradora alegria de viver das pessoas no Pará, o senhor desvalorizou publicamente nosso parceiro mais importante na América do Sul”, escreveu ela no texto divulgado nesta quinta-feira, 20. “O Brasil é uma das maiores democracias do mundo e um de nossos aliados mais próximos na luta pela liberdade, contra o autoritarismo e contra a desinformação. Como deputada alemã na COP30, envergonho-me de suas palavras e já tive que me desculpar várias vezes em conversas com pessoas do Pará pois esta não é a Alemanha que desejo representar”, acrescentou.
