Neste sábado, 06, o Autódromo de Interlagos, em São Paulo, volta a protagonizar um encontro de pluralidade musical na estreia da segunda edição do festival The Town. O conceito do evento foi pensado para incorporar características marcantes da cidade em sua estrutura e programação. É nesse contexto que surge o Palco Quebrada, um espaço inédito para artistas que ecoam a voz das ruas, em homenagem à região que revelou grandes nomes da cultura nacional que sempre reverberaram as narrativas periféricas, como Mano Brown, Criolo e Dexter.
Este ano, as batalhas de rima, patrimônio cultural imaterial do Estado de São Paulo, vão ganhar destaque. Durante todos os dias do line-up, o Quebrada receberá como a primeira atração a “Batalha da Aldeia – SUPERLIGA THE TOWN”, a maior competição de rimas do país. Com 32 MCs de diversas regiões, o torneio acontece em formato eliminatório nos quatro primeiros dias, e os finalistas disputarão o título no último dia de festival.
“A Batalha da Aldeia, no formato da Superliga The Town, vem com essa proposta de 8 MCs por dia, que foram pinçados pelos próprios criadores. Então estamos falando dos melhores. Vamos ver batalhas de campeões”, revela a VEJA o vice-presidente artístico da Rock World, Zé Ricardo.
Nas redes sociais, o perfil oficial que publica vídeos de cortes das disputas de rimas improvisadas já soma mais de 10 milhões de visualizações.
“Eu acho que a importância de ter essa novidade é, antes de tudo, a questão democrática que ela propõe, que seja escolhido o melhor. É uma experiência que o nosso público não viveu ainda. Em um festival muito grande, todo mundo poder levantar a mão e escolher quem realmente quer. Vai ser uma nova provocação, que tem a intenção de trazer uma linguagem diferenciada para o festival, o que segue no caminho de se reinventar sempre”, destaca Zé Ricardo.
O palco terá uma cenografia especial, também inspirada nas periferias paulistas.O espaço será grafitado ao longo do festival, e encerrará a cada dia com novos elementos visuais. Com o cantor Belo como embaixador, o Quebrada também receberá os artistas MC Hariel, Black Pantera, Kayblack e Criolo.
“A função desse palco no festival é ampliar o olhar da sociedade sobre o que é favela. A nossa visão sobre isso é muito restrita aos problemas que algumas comunidades têm enquanto bairro, no direito de ir e vir das pessoas e todas aquelas coisas que nós sabemos. Mas, talvez, até como produto dessa dificuldade, nascem coisas espetaculares e únicas. Alguns dos principais artistas que nós temos na música hoje vieram de favela”, ressalta o vice-presidente artístico da Rock World.
Estão confirmados os MCs Apollo, Brennuz, Yoga, Levinsk, Sofia, Guri, Noventa e Tonhão, que vão lutar pelas primeiras vagas para a final. Domingo, 7 de setembro, no dia dedicado ao rock e ao punk rock, a rima ficará por conta de Prado, Big Mike, Julietz, Tubarão, Ajota, MT, Kaemy e da carioca, Devilzinha. Enquanto isso, a penúltima
disputa, no dia 12 de setembro, irá reunir Gomes, Naia, Monarka, Tavin, Kroy, Kant, Winnit e Thiago. Já o último dia para garantir uma vaga na final, a competição vai receber Magrão, Neo, Japa, Vitu, Maria, Menor, Xamuel e Sagat.
“A minha intenção é que as pessoas percebam que o que tem no Palco Quebrada é para ser escutado, pesquisado e mergulhado por quem quiser. Tem gente que fala ‘ah mas o povo de favela não tem dinheiro para comprar o ingresso’, mas não é sobre comprar o ingresso, é sobre representatividade. É que nem a gente via o Ayrton Senna ganhando o campeonato de Mônaco. Eu não tinha dinheiro para comprar passagem para ir para Mônaco, mas eu me sentia absolutamente representado. Quando o Brasil ganhava uma Copa do Mundo, quando a gente vê um jogador nosso brilhando fora do Brasil, tem representatividade na conversa. Então eu acho que o Palco Quebrada também é sobre representatividade”, destaca Zé Ricardo, que relembra do seu primeiro ingresso comprado para o Rock in Rio, festival que também faz parte da Rock World.
“É um trabalho feito com paixão, feito com amor, sem arrogância. É realmente acordar todo dia pensando e se dedicando para entregar o melhor. Eu sei quanto custa o ingresso. Porque o meu pai era porteiro de um edifício, minha mãe trabalhava em casa e eu era Office boy de um banco. Eu juntei 4 meses do meu salário pra comprar o meu ingresso para o Rock In Rio. e voltava a pé para casa para pagar esse ingresso. Eu sei o quanto às vezes faz falta aquele dinheiro, mas eu sei também o quanto aquele ingresso transformou completamente a minha vida”, conta.