Nas últimas semanas, uma cena mais comum aos Estados Unidos começou a se repetir em terras britânicas: dezenas de casas ao redor do Reino Unido passaram a hastear bandeiras nacionais. Segundo apoiadores do movimento, se trata de uma campanha para mostrar orgulho nacional. No entanto, a ação gerou apreensão entre críticos, porque ocorre num momento marcado por crescentes tensões sobre a questão migratória e uma onda de sentimento anti-estrangeiros.
A mobilização em torno da Union Jack — bandeira do Reino Unido — e da Cruz de São Jorge — bandeira da Inglaterra — emerge em momento no qual a imigração se tornou a principal preocupação dos eleitores, de acordo com dados da empresa YouGov. O surgimento das flâmulas nas ruas britânicas coincidiu com uma série de protestos em frente a hotéis que abrigam solicitantes de asilo.
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As primeiras aparições dos símbolos nacionais ocorreram em Birmingham, mas grupos em todo o país passaram a incentivar a exibição dos estandartes, antes relegados ao papel de ornamento em prédios públicos.
“É a nossa bandeira, deveríamos ter orgulho de hasteá-la”, disse a bartender Livvy McCarthy à agência de notícias Reuters. “Todos os outros países podem fazer o mesmo, então qual é o problema?”
Segundo os Weoley Warriors, primeiro grupo a exaltar os estandartes, a mobilização é uma forma de mostrar o quanto se orgulham da “história, liberdades e conquistas” britânicas. Autodenominados “homens ingleses orgulhosos”, os Warriors não deram mais detalhes sobre as razões do hasteamento das bandeiras.
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A mobilização não foi ignorada pelas autoridades britânicas. Alguns conselhos locais removeram as flâmulas por razões de segurança. De acordo com um porta-voz do primeiro-ministro do país, Keir Starmer, apesar de as peças serem símbolos da herança e dos valores da nação, alguns querem usá-las para causar conflitos.
Diversos políticos ingleses da oposição apoiaram o movimento, incluindo Nigel Farge, do partido de extrema direita Reform UK — que acaba de anunciar um plano para deportar 600 mil imigrantes do Reino Unido em cinco anos, caso seja eleito premiê —, e Robert Jenrick, do Partido Conservador. Na rede social X (antigo Twitter), Jenrick acusou os conselhos que removeram as bandeiras de “odiar” a Grã-Bretanha.
Raise The Colours!
While Britain-hating councils take down our own flags, we raise them up.
We must be one country, under the Union Flag. pic.twitter.com/fTXmEa3V3F
— Robert Jenrick (@RobertJenrick) August 21, 2025
Não é a primeira vez que símbolos nacionais ingleses são cooptados para fins políticos. Durante a década de 1970, a Union Jack foi vinculada ao partido supremacista branco Frente Nacional, enquanto a Cruz de São Jorge se tornou adereço comum a grupos de extrema direita.
Devido ao histórico problemático envolvendo os símbolos, membros de comunidades de imigrantes têm demonstrado temores diante da súbita promoção de orgulho inglês. “A preocupação vem do fato de que, se a situação piorar, pode se transformar em outra coisa”, afirmou o nigeriano Stanley Oronsaye, de 52 anos, à Reuters.
Morador de Tower Hamlets, distrito de Londres conhecido como um caldeirão cultural por abrigar diferentes comunidades migrantes, Oronsaye afirma que todos têm o direito de expressar suas opiniões sobre a questão migratória, desde que estejam dentro dos limites da lei.