O Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos, Fed) decidiu, como esperado, manter a taxa básica de juros no intervalo de 4,25% a 4,5%, mesmo patamar desde dezembro do ano passado. Segundo a ferramenta FedWatch, 96,9% do mercado já apostava na manutenção. A decisão, porém, não se resume a um ato de previsibilidade. Ela marca a continuação de uma estratégia cuidadosamente calibrada diante de uma economia que passa por momento de incerteza com a política tarifária de Donald Trump, em um momento em que a inflação segue desencorada e a economia ainda dá sinais de crescimento.
“A incerteza quanto às perspectivas econômicas permanece elevada. O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato”, disse o Fed no comunicado.
A inflação ‘preferida do Fed’
O PCE, índice de inflação preferido pelo Fed, registrou alta de 2,3% em maio, bem abaixo do pico de 7% observado em 2022, sinalizando uma trajetória de desaceleração. No entanto, o mercado de trabalho continua aquecido: com taxa de desemprego em 4,1%, ainda próxima dos menores patamares históricos, a pressão sobre os preços persiste, tornando mais difícil a convergência da inflação para a meta de 2%.
Embora o efeitos do “tarifaço” ainda sejam incertos, o risco de pressões inflacionárias causadas por choques de oferta ronda a política monetária. Amanhã, dia 1 de agosto, entra em vigor a taxa de 50% aos produtos brasileiros. O governo brasileiro busca diálogo e negociação, mas, segundo do Lula, a Casa Branca “não quer conversar”.
Desta vez, a decisão do colegiado não foi unânime. Dos 13 membros, 10 votaram pela manutenção da taxa, dois defenderam um corte de 0,25 ponto percentual e um esteve ausente.
Sobre os rumos da política monetária nos eua, há uma heterogeneidade de opiniões dentro do próprio Comitê de Política Monetária (FOMC). Enquanto vozes como as dos governadores Michelle Bowman e Christopher Waller admitem a possibilidade de cortes nos juros em breve – o primeiro já poderia ocorrer em setembro -, outros membros permanecem mais prudentes, defendendo mais tempo para avaliar os impactos cumulativos da política restritiva e os efeitos ainda difusos das tarifas. O presidente do Fed de Nova York, John Williams, e sua colega de Boston, Susan Collins, por exemplo, destacaram que os efeitos das tarifas podem se limitar a um aumento único nos preços. Já Adriana Kugler, do Conselho de Governadores, e o presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, alertaram para o risco de efeitos inflacionários mais persistentes, especialmente se as tarifas contaminarem as cadeias de suprimentos.
A estratégia de Jerome Powell, até aqui, tem sido a de preservar a margem de manobra: esperar, observar e só então agir. A mensagem central é clara: a política monetária ainda é restritiva o suficiente para esfriar a inflação, mas não tão apertada a ponto de sufocar o crescimento. Powell tem reiterado que, embora o ciclo de alta de juros provavelmente tenha chegado ao fim, o Fed não hesitará em manter o atual patamar por mais tempo caso os riscos de uma recaída inflacionária se intensifiquem.
Segundo o Goldman Sachs, em um cenário benigno, a taxa terminal em 2026 deve girar entre 3% e 3,25%, ainda acima dos níveis pré-pandemia, mas compatível com o novo cenário econômico.
A pausa atual, portanto, não é um sinal de inércia. É o retrato de um Fed que reconhece a melhora no front inflacionário, mas ainda enxerga riscos demais à frente. Em tempos assim, a paciência se torna uma virtude monetária. E Jerome Powell, ao que tudo indica, está disposto a exercê-la.