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Autora de O Poder da Presença, Amy Cuddy fala a VEJA: “Nossos corpos causam impacto”

Autora de O Poder da Presença (2016, ed. Sextante), a americana Amy Cuddy, de 52 anos, se tornou uma das principais palestrantes sobre como posturas corporais podem ser uma ferramenta poderosa nas relações interpessoais. Até hoje, sua palestra no TED sobre o tema em 2012 recebe milhares de visualizações diariamente. No começo do mês, a psicóloga social falou exclusivamente com VEJA enquanto esteve no Brasil para dar uma palestra no Auditório do Ibirapuera no Arco Day, evento organizado pela Arco Educação, empresa especializada em soluções educacionais para o ensino básico.

Cuddy falou sobre seu estudo na área da psicologia, os ataques que sofreu de pesquisadores que tentaram descredibilizar seu trabalho, da ofensiva do presidente Donald Trump contra a Harvard — instituição de ensino onde ela já atuou como professora em tempo integral, e até de como sua palestra sobre “pose de poder” pode ter inspirado cenas nas série Ted Lasso, da Apple TV+, e Grey’s Anatomy, da ABC.

Confira a entrevista completa:

O seu livro, O Poder da Presença (ed. Sextante), que fala sobre poses de poder, teve um grande impacto na sociedade e foi traduzido para diversas línguas. Como descreveria a mensagem principal que desejava transmitir com ele? O que quero transmitir é que a maneira como nos comportamos fisicamente, a maneira como nos tratamos, fisicamente, tendo respeito próprio, não só nos tornamos mais confiantes, mais ativos e nos sentimos mais poderosos, mas também é um comportamento contagioso. Se nossos filhos estão nos observando e estamos curvados, mal-humorados e nos sentindo mal, isso não os ajuda. Então, esse tipo de poder é contagioso. Quando expandimos nossos corpos, nossa mente e coragem, causamos impacto. 

A obra se tornou um best-seller do The New York Times e é um livro do nicho de autoajuda, que basicamente se tornou um gênero voltado a pessoas que buscam descobrir o que fazer com as próprias vidas. Por que acha que esse gênero literário faz tanto sucesso? As pessoas precisam de mais orientação do que nunca? Acho que sim. Acho interessante porque isso é realmente verdade, especialmente no Brasil. Esses livros fazem muito sucesso no Brasil e, novamente, acho que essas são as semelhanças entre a cultura brasileira e partes da cultura americana. Acho que é porque a vida está nos cobrando cada vez mais e tão rápido tudo vai mudando. Então, sentimos muito que perdemos o controle sobre muitas partes de nossas vidas. E então, estamos tentando encontrar maneiras de retomar o controle e sentir que temos um espaço seguro para ser quem queremos ser.

É realmente possível que uma postura poderosa possa ajudar em uma entrevista de emprego ou uma reunião com o chefe para pedir um aumento, por exemplo? Por meio dessa ativação do sistema de abordagem, o que se vê é que as pessoas se tornam mais alinhadas internamente, certo? Elas são mais capazes de expressar suas habilidades e valores. Elas acreditam em suas histórias e, se você acredita na sua, os outros acreditam. 

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Acha que ter uma postura poderosa é ainda mais importante para uma mulher do que para um homem? Eu não diria que é mais importante, mas acho que é igualmente importante. O que descobrimos é que por volta dos 10 ou 11 anos, as meninas começam a encolher mais do que os meninos. Antes dessa faixa etária, as crianças usam uma linguagem corporal muito semelhante, independentemente do gênero. Na vida adulta, essa diferença é ainda maior. As mulheres usam uma linguagem corporal muito menos expansiva do que os homens. As crianças aprendem esse estereótipo corporal muito cedo. Por volta dos cinco ou seis anos, elas começam a pensar que figuras expansivas são meninos e figuras contraídas, como a boneca na capa do meu livro, são meninas. Então, precisamos ensinar a todas as nossas crianças que não há problema em se expandir, porque acho que isso se desenvolve por si só. 

A autora Amy Cuddy em palestra no Arco Day, evento da Arco Educação, em São Paulo
A autora Amy Cuddy em palestra no Arco Day, evento da Arco Educação, em São PauloArco Educação/Reprodução

Nos seus estudos anteriores, a senhora discute como a influência da linguagem corporal pode causar mudanças fisiológicas, como alterar os níveis hormonais, mas depois sua pesquisa foi refutada, gerando dúvida sobre a veracidade científica das suas descobertas. Como foi lidar com essas críticas? Críticas no meio científico são bem-vindas, geram debates, até porque nunca chegamos ao fim de nada na ciência. Imagine se a astronomia dissesse que terminamos, que não há mais nada a aprender, certo? Descobrimos que existem tantos exoplanetas. E então, 10 anos depois, descobrimos que existem novos exoplanetas. Isso significa que as coisas anteriores estavam erradas ou incompletas? Não. Então eu gostaria que, em vez de sermos atacados pessoalmente, queria que tivéssemos nos envolvido em pesquisas colaborativas.

Por que muitos tentaram desacreditá-la, certo? Com certeza. Eles simplesmente disseram que nada funciona, nada do que publiquei é verdade, o que é ridículo. Quer dizer, existem mais de cem estudos mostrando os efeitos positivos da posição de poder. Ainda existem estudos mostrando os efeitos sobre os hormônios, mas isso não recebe atenção porque alguns estudos não replicaram as descobertas sobre os hormônios. Um ponto interessante é que a maneira como medimos os hormônios melhorou tanto nos últimos 10 anos que muitas das primeiras descobertas da psicologia social sobre hormônios estão sendo refeitas para verificar se realmente funcionam ou não. Então, eu gostaria que esse tivesse sido um debate científico saudável, porque em vez de aprender, interrompeu essa linha de pesquisa. Essa experiência toda me motivou a escrever um novo livro sobre bullying, porque o bullying não leva ao progresso. Ele nos fecha e nos impede de aprender e parar de debater e impedir que a ciência cresça.

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Um livro sobre bullying na vida adulta? Não, de forma geral. A situação em que vivemos está, antes de tudo, influenciando nossos filhos. Falamos sobre eles e nos preocupamos com a possibilidade de eles praticarem bullying uns com os outros, mas veja o que eles estão assistindo. Eles estão nos observando praticarmos bullying uns com os outros. Quando você tem uma cultura de bullying, você tem silêncio. As pessoas param de compartilhar ideias.

Acha que os políticos podem usar posturas de poder para influenciar a quantidade de eleitores que conseguem conquistar? Não quero que políticos usem a linguagem corporal de forma indevida, de forma a influenciar as pessoas de forma desonesta. Acho que se você souber adotar essa postura mais expansiva nos torna mais alinhados internamente e mais presentes, saber que nossos valores estão alinhados com nossas ações, isso é positivo. Mas eu gostaria que eles influenciassem os eleitores porque são honestos e confiáveis. E que pudessem revelar essa confiabilidade aos outros, não fazer isso de forma manipuladora. Porque não se trata apenas de influência corporal ou algo assim, mas da influência política que eles têm no mundo, eu acho.

Recentemente, a senhora falou em seu perfil no LinkedIn sobre a situação de Harvard, que tem sofrido retaliações do governo de Donald Trump e até medidas de proibição de alunos estrangeiros. Como professora convidada da universidade, como tem sido estar no meio desse fogo-cruzado? Nunca antes na minha vida senti que não podia falar abertamente sobre coisas que são tão obviamente boas. E essa é uma sensação assustadora. E estou tentando descobrir como ser uma força positiva falar sobre as coisas de uma forma positiva, sem medo de ser prejudicado ou alvo. Porque eu não acho controverso dizer que a educação e as universidades se beneficiam de ter estudantes internacionais na internet. Nunca na minha vida pensei que teria que dizer que isso é algo bom. É difícil para mim acreditar que é aí que estamos. 

O seu trabalho inspira muitos coaches de desenvolvimento pessoal e profissional, que geram muitos debates sobre quão eficazes os conselhos que eles vendem são. O que pensa sobre essa cultura de coaching que vem dominando o mundo? Eu sei que os coaches são muito populares no Brasil e conversei com um grupo de coaches brasileiros recentemente. Mas aqui está minha preocupação: não acho que haja nada de errado com coaching. Acho que as pessoas devem ser treinadas e acho que o Brasil tem alguns bons programas de treinamento. Quero dizer, algumas credenciais. Acho que é importante que haja um nível básico de conhecimento em psicologia. Com certeza. E não acho que deva ser confundido com terapia ou psicologia clínica. Portanto, não acho que os coaches tenham o treinamento adequado para tratar patologias. E isso precisa ficar claro para as pessoas que estão contratando coaches. E temo que não fique. Sabe, conheço pessoas que dizem: “Ah, eu não tenho um terapeuta, mas tenho um coach”. Acho preocupante. Então, acho que há um papel para os coaches agora – e não é tratar problemas psicológicos, mas nos ajudar a melhorar e ser mais eficazes em nossas vidas. E eu gostaria de ver um treinamento ainda melhor para que o coaching possa melhorar.

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A sua palestra no TED em 2012 é a terceira mais vista da história, com 27 milhões de visualizações,. Como é olhar para sua trajetória profissional construída a partir dela? Algo mudou? Estou muito mais confiante agora. Eu estava tão nervosa naquele dia. Hoje sou muito mais feliz na minha idade agora do que era naquela época. Sinto que posso ser eu mesma agora. Mas é incrível lembrar desse vídeo, porque ele ainda recebe em torno de 5 000 a 10 000 visualizações por dia até hoje, então muitas pessoas estão descobrindo ele ainda, muitos compartilham suas histórias comigo, contando como usam aqueles conselhos nas próprias vidas. 

Além do livro sobre bullying, pensa em explorar outro tema? Eu gostaria de fazer uma espécie de livro mais curto sobre presença, sim. Não apenas sobre sentimentos de poder, mas todas as diferentes maneiras pelas quais o corpo afeta a mente.

A autora Amy Cuddy em palestra no Arco Day, evento em São Paulo
A autora Amy Cuddy em palestra no Arco Day, evento em São PauloArco Day/Reprodução

Você mencionou na sua palestra no Brasil como os leitores brasileiros são muito importantes para você e eu queria saber exatamente por quê? É o meu segundo maior público. Então, quer dizer, o que é incrível porque eu não falo português, embora eu prometa aprender. Mas, sabe, depois dos Estados Unidos, eu tenho o Reino Unido e a Austrália, mas o Brasil é de longe o meu segundo maior público. E já estive aqui, sabe, meia dúzia de vezes para palestras. E eu tenho tantos amigos brasileiros agora. E eu entendo. E eu acho que há um interesse em auto aperfeiçoamento e crescimento pessoal. Há um conforto em se sentir poderoso e confiante, então as pessoas não sentem que precisam ser excessivamente modestas.

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Na sua palestra, você usou uma cena da série Ted Lasso, da Apple TV+, em que a personagem Rebecca (Hannah Waddingham) ensina como uma postura de poder pode ajudar o Nathan (Nick Mohammed) a adquirir confiança instantaneamente. Acha que foi uma referência ao seu trabalho? Eu não tenho uma confirmação oficial, mas sei que a série usa muitos materiais de TED talks nos episódios, então não me surpreenderia se fosse. Esses dias até conversei com a pesquisadora Brené Brown porque ela pode ter sido usada de referência em outro episódio. Teve um episódio de Grey’s Anatomy que também já falaram sobre as “poses de poder de estudos de uma pesquisadora de Harvard”. Eu sei que a showrunner Shonda Rhimes gosta de ir em palestras do TED. Já me aconselharam a pedir créditos, mas eu acho que influenciar a cultura já é suficiente para mim, não preciso de crédito. 

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