counter Autor de ‘A Psicologia Financeira’ revela como ser feliz com o seu dinheiro – Forsething

Autor de ‘A Psicologia Financeira’ revela como ser feliz com o seu dinheiro

Durante os anos em que cursou a faculdade de economia na Califórnia, o americano Morgan Housel dirigia Ferraris e Lamborghinis — carros de luxo que estavam longe de seu poder aquisitivo. Fruto de uma família de classe média, o estudante trabalhava como manobrista em um hotel, tendo contato diário com milionários. Quando enfim começou a trabalhar no mercado financeiro, deparou-se com os primeiros efeitos da crise econômica de 2007. O período evidenciou para Housel a distância entre os textos que falam sobre economia e a população comum, que sente na pele os efeitos da recessão. Com a missão de descomplicar o “economês”, tornou-se colunista de finanças e, em 2020, reforçou a literatura do filão com A Psicologia Financeira — best-­seller que encabeça os 10 milhões de livros vendidos de sua obra enxuta, composta ainda por O Mesmo de Sempre (2023) e A Arte de Gastar Dinheiro (2025), que acaba de chegar às livrarias. “O que me atraiu foi a possibilidade de falar do assunto a partir dos desejos humanos”, disse ele a VEJA (leia a entrevista abaixo).

DE OLHO NAS CONTAS - Os conselhos: autor se especializou em finanças práticas para pessoas comuns
DE OLHO NAS CONTAS - Os conselhos: autor se especializou em finanças práticas para pessoas comunsiStock/Getty Images
A ARTE DE GASTAR DINHEIRO, de Morgan Housel (tradução de Bruno Fuiza; Harper Business; 288 págs.; R$ 49,90 e R$ 34,90 em e-book)
A ARTE DE GASTAR DINHEIRO, de Morgan Housel (tradução de Bruno Fuiza; Harper Business; 288 págs.; R$ 49,90 e R$ 34,90 em e-book)./.

Housel então tirou os dólares das planilhas e os deitou no divã de sentimentos humanos que influenciam nos gastos, como o medo, a incerteza, o ciúme e a inveja. Assim, deu a seus textos um alcance amplo e global: no Brasil, o autor de 40 anos se mantém há mais de 100 semanas entre os dez livros mais vendidos da lista de VEJA. Embora muitos conselhos de Housel passem por obviedades da educação financeira — e sejam até ingênuos no caso de realidades menos abastadas —, sua escrita em formato de anedotas dá cores mais compreensíveis e envolventes ao tédio dos números que dominam o filão. Em uma das passagens da obra, por exemplo, o autor discorre sobre como a família americana Vanderbilt, que foi a mais rica do país, perdeu a fortuna com a vida de ostentação dos herdeiros. A partir de casos como este, desconstrói a ideia de que o dinheiro, por si só, traz felicidade — ao mesmo tempo que dá respostas a quem busca entender por que não consegue ascender economicamente.

arte Morgan

Continua após a publicidade

Housel cresceu em uma casa de orçamento apertado enquanto o pai estudava medicina. Mesmo com a posterior melhora financeira, a família optou por hábitos modestos, uma das lições valiosas abraçadas pelo economista: ele bate na tecla de que a aparência e o status não são motivações válidas para quem quer ser próspero (leia mais no quadro). “Se ninguém pudesse ver as roupas que usamos, os carros que dirigimos ou a casa em que moramos, provavelmente gastaríamos o salário de outro jeito”, defende. Segundo o escritor, há duas maneiras de enriquecer: uma é se sacrificar mais, a outra é almejar menos. “Nenhuma delas é divertida”, conclui. Eis aí uma dura e sincera sabedoria financeira.

“O dinheiro é a janela do mundo”

O escritor e economista Morgan Housel fala a VEJA sobre o uso consciente do dinheiro.

Por que investiu na carreira de escritor de finanças? O dinheiro é a janela do mundo. Ele ajuda a entender a sociedade e o que valorizamos. A literatura financeira costuma ser muito técnica. O que me atraiu foi a possibilidade de falar de dinheiro a partir dos desejos humanos.

Continua após a publicidade

Seu novo livro sugere formas ideais para gastar dinheiro. Como chegou nesse conceito? A partir da ideia de que queremos usar o dinheiro como ferramenta para uma vida melhor, mas geralmente o transformamos em medida de status e de comparação.

Em que sentido? Gastar para se exibir ou chamar a atenção dos outros é um comportamento muito comum — e também um caminho perigoso e vazio.

As redes sociais influenciam nesse comportamento? Com certeza. Não importa o quanto ganhe ou o quão feliz esteja, há centenas de pessoas na internet mais bonitas e ricas do que você. Mesmo com abundância, é comum achar que estamos ficando para trás.

Continua após a publicidade

E qual é a forma mais inteligente de gastar dinheiro? Não existe uma maneira ideal. É válido experimentar e descobrir o que importa para você e o que te faz feliz. Sugiro focar mais na utilidade dos gastos e menos na aparência que eles podem proporcionar.

É comum falar de finanças para ricos. Como os mais pobres podem lidar com o dinheiro? Acho que um passo importante é sempre avaliar gastos que sobrecarregam o orçamento. Pensamos muito em cortar pequenas despesas supérfluas, mas não é o cafezinho que vai te endividar. É o aluguel, a prestação do carro, o empréstimo estudantil.

Dá para economizar com o orçamento apertado? Sim. Dinheiro e riqueza são um espectro. Muitas pessoas não economizam porque acham que o pouco que conseguem guardar não vai fazer diferença. Isso não é verdade. Cada moeda poupada é um pouco mais do seu futuro que você controla. Mesmo que seja 1, 5 ou 10 reais. Economizar é um investimento na sua independência.

Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2025, edição nº 2968

Publicidade

About admin