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Autopromoção médica: onde termina a estratégia e começa o problema?

Veja se você concorda comigo: hoje pensa-se (e vende-se muito) que médico que não aparece não é lembrado. Mas será que isso justifica autopromoção a qualquer custo? A linha entre o posicionamento estratégico e a exposição indevida pode ser mais estreita do que parece, e sim, é fácil atravessar.

Com redes sociais se tornando quase uma extensão do consultório, a presença digital deixou de ser algo a mais e virou, para muitos, uma necessidade. Mas aí vem a pergunta que realmente importa: como manter essa presença sem abrir mão da ética médica?

Não tem problema nenhum em compartilhar sua rotina profissional, pelo contrário. Mostrar que esteve em um congresso, dividir aprendizados, postar uma foto no hospital ou até mesmo explicar uma conduta de forma educativa são formas saudáveis de se posicionar. Isso mostra que você está se atualizando, seu compromisso com os pacientes e te aproxima do seu potencial cliente. E, sejamos honestos, todo mundo gosta de ver os bastidores, ainda mais em se tratando de saúde.

O problema começa quando o foco muda. Quando o tal “conteúdo educativo” vira vitrine. E, pior ainda, quando pacientes ou familiares são mostrados de forma direta ou indireta, mesmo sem querer. Um detalhe no fundo da foto, um caso contado rápido demais… e pronto. Um primo, um vizinho, alguém vai reconhecer. É por isso que falar de ética no digital se faz necessário.

Não faz muito tempo que o Conselho Federal de Medicina publicou as novas regras da publicidade médica, e elas não estão ali para complicar a vida de ninguém. São, na verdade, um norte, um jeito de garantir que a comunicação médica respeite os princípios fundamentais da profissão. O que está em questão aqui não é ser “engessado” ou “careta”. É ter ética: um dos pilares mais sólidos da medicina, mesmo num ambiente tão volátil como as redes sociais.

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Mas, antes de sair criando conteúdo, o ideal é refletir: com quem você está tentando conversar? Com estudantes de medicina, que buscam inspiração ou conhecimento técnico? Com colegas que podem referenciar pacientes? Com o público leigo, que quer entender melhor sua especialidade?

Essa definição muda tudo. Um perfil voltado para estudantes, por exemplo, pode ter mais vídeos explicativos, dicas de estudo e bastidores da formação. Já quem quer mostrar autoridade para pacientes talvez prefira usar uma linguagem mais acessível, abordando dúvidas comuns, sintomas, sinais de alerta. Agora, se a ideia é dialogar com outros médicos para ter mais pacientes referenciados, o tom pode ser mais técnico, com discussões de conduta, artigos comentados ou até bastidores da prática clínica.

Independente da sua opção, algumas coisas não podem faltar. Seja transparente. É preciso deixar claro que aquele conteúdo de caráter informativo não substitui uma consulta médica. Seja consistente. Não adianta postar uma vez por mês e sumir, já que presença digital exige frequência, mas não é só quantidade, a qualidade também importa. Participar de eventos, mostrar bastidores, comentar uma nova diretriz ou até compartilhar um erro (com responsabilidade e cuidado) pode gerar conexão de verdade. E, por fim, seja coerente! A forma como você se comunica tem que refletir quem você é como profissional. Não se esqueça que a internet, lá no fundo, é cruel com personagens forçados e o público realmente sente quando tem verdade e quando tem atuação.

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Vemos diariamente nas redes vários tipos de posicionamentos. Tem quem use humor inteligente e consiga ensinar com leveza, e acabe lotando a agenda de consultas. Tem quem foque em vender cursos e consiga impactar milhares de estudantes e recém-formados. E tem quem se destaque entre os colegas como referência em determinada área, tanto por publicar suas pesquisas em revistas relevantes, quanto por trazer conteúdo técnico de uma forma diferente. O segredo? Talvez seja o bom alinhamento entre quem você é, com quem você quer falar e como você escolhe aparecer.

A medicina não é mais jaleco e estetoscópio. Ela também é o que você compartilha no feed, nos stories, nas mensagens — e isso não é necessariamente ruim. A presença digital pode ser uma ponte entre o médico e a sociedade, desde que construída com ética, intenção e respeito.

Autopromoção estratégica não é gritar para chamar atenção. É saber se posicionar. É comunicar valor sem perder o respeito pelo outro, especialmente aquele que mais merece: o paciente.

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E você, já pensou em como quer ser lembrado no digital?

*João Lucas Aleixes é médico intensivista e especialista da plataforma de Carreira Médica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

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