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Aumentando a pressão: Trump e o Jared Kushner apertam Netanyahu

A segunda fase do processo de pacificação de Gaza está aí e Donald Trump faz o que tantos presidentes americanos antes dele já fizeram: pressionar Israel. É um jogo de gente grande porque o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é um osso duro de roer, tem o apoio de importantes judeus americanos e também da parte da opinião pública que continua a preferir a cautela, sabendo que Israel está cercado por inimigos, inclusive os com os quais tem acordos de paz.

É aí que entra Jared Kushner, o bilionário casado com Ivanka Trump que no primeiro mandato do sogro teve um cargo oficial – sem remuneração – e agora funciona como uma espécie de agente livre, em dupla com Steve Witkoff ou agindo isoladamente, quando a guerra na Ucrânia demanda toda a atenção do negociador oficial americano.

Kushner está numa posição favorável para pressionar Israel: é de uma família de judeus procedentes da Polônia e Bielorússia, neto de sobreviventes do Holocausto e praticante do judaísmo na versão ortodoxa moderna. E ainda conhece Netanyahu, amigo de seu pai, desde pequeno. Não pode ser acusado de antissionismo, mesmo que haja israelenses desconfortáveis com o que consideram excessiva proximidade dele com a Arábia Saudita e outros países do Golfo, recompensada por enormes aportes no banco de investimentos que ele dirige quando não está ocupado em acabar com guerra da Ucrânia ao Oriente Médio.

É também o arquiteto dos acordos de Abraão, uma tática de enfrentar o enorme nó do Oriente Médio de fora para dentro. Ou seja, protelar a mais intratável das questões, o futuro dos palestinos, e costurar pelas margens acordos de normalização entre Israel e países muçulmanos que são aliados dos Estados Unidos. Deu certo com Emirados Árabes Unidos, Bahrain, Marrocos e Sudão.

PAZ ATRAVÉS DOS NEGÓCIOS

A invasão do Sul de Israel pelo Hamas e a subsequente guerra em Gaza trouxeram para o centro, de novo, a questão palestina, mas Kushner e Witkoff conseguiram, contra todas as expectativas, o atual cessar-fogo – tecnicamente, uma trégua – e a libertação dos reféns israelenses mantidos nos túneis do Hamas. Kushner e Witkoff chegaram a negociar diretamente com o Hamas nas reuniões no Egito.

Imaginem a situação: dois judeus americanos conversando com islamitas que alegremente os decapitariam, mas tiveram que aceitar sentar-se à mesma mesa porque a pressão militar israelense os estava levando à obliteração.

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O cessar-fogo foi um feito formidável que colocou os negociadores americanos em posição mais forte para ampliar a visão criativa de Kushner, amplamente endossada pelo sogro, de impulsionar um ambiente propício à pacificação através de acordos comerciais mutuamente benéficos.

A pressão atual é para que Netanyahu se encontre com o presidente egípcio, Abdel-Fatah Al-Sissi, para oficializarem um grande acordo de fornecimento de gás. Sissi, outra habilíssima raposa, foi vital para o acordo sobre Gaza e precisa mostrar vantagens aos egípcios – sempre sem esquecer que Anuar Sadat foi assassinado por radicais islamitas durante um desfile militar justamente por fazer um acordo de paz com Israel.

MÉTODOS BRUTAIS

A paz através de transações comerciais é uma tática que combina com Trump, Kushner e Witkoff, todos do mundo dos negócios imobiliários de Nova York, um ambiente onde a competição, o jogo sujo e os métodos brutais os prepararam para a realidade do Oriente Médio. Só para dar uma ideia: o pai de Jared, Charles Kushner, foi condenado a dois anos de prisão por crimes fiscais e tentativa de interferência no andamento da justiça ao contratar uma prostituta para ter um encontro sexual gravado com seu cunhado, por cooperar com as autoridades nas investigações sobre ele. Recebeu um perdão presidencial assim que Trump assumiu e foi nomeado embaixador na França. Precisa mais?

Jared Kushner tem uma figura impecável e algo gélida, mas também sabe se movimentar nesse mundo. Já reclamou que o governo israelense deveria selar os acordos comerciais mediados pelos Estados Unidos em vez de “ficar falando no Irã o tempo todo”, segundo revelou o Axios.

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Disse a fonte americana: “Jared disse a Bibi que Israel precisa desenvolver a musculatura da diplomacia comercial e envolver o setor privado no processo de paz. Ele explicou como representantes de Catar, Arábia Saudita ou Emirados vão a Washington, levam delegações comerciais porque são focados em negócios”.

O acordo com o Egito, segundo a fonte, “é uma grande oportunidade para Israel. Vender gás para o Egito criará interdependência, aproximará os países, propiciará uma paz mais cálida e evitará a guerra”.

BORRIFADA DE PERFUME

Os americanos também pressionaram Israel a fazer um acordo de cooperação comercial com a Síria, o que seria uma transformação nada menos do que vertiginosa. Para lembrar: Trump recebeu na Casa Branca o ex-líder de uma facção identificada com a Al Qaeda que, numa outra guinada quase inacreditável, derrubou o regime sírio, apoiado pela Rússia e pelo Irã, e se autodeclarou presidente.

Trump tem se desdobrado em elogios a Ahmed Al-Sharaa, a quem obviamente tenta trazer para o lado dos Estados Unidos, numa estratégia de enorme audácia. No encontro no Salão Oval, ele borrifou o ex-islamista (se aceitarmos que realmente é ex) com perfume de um frasco e disse que o outro seria para a mulher.

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“Quantas você tem?”, quis saber.

“Uma”, respondeu um surpreso Sharaa.

“Com essa turma nunca se sabe”, arrematou Trump.

As apostas do presidente americano e de seu genro são, como vimos até agora, altíssimas. Em Gaza, foram recompensadas. Poucos achavam que daria certo – e alguns antitrumpistas até torciam para que dessem errado, só com base no princípio de que vale tudo para o presidente quebrar a cara.

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UMA GAZA TEMPORÁRIA

Jared Kushner está fazendo um esforço enorme para que isso não aconteça. Quando foi nomeado por Trump pela primeira vez, alas antitrumpistas o ridicularizaram quando ele disse que havia lido 25 livros sobre o Oriente Médio para se preparar. Numa das negociações sobre Gaza, rejeitou argumentações baseadas na história incrivelmente complexa da região. “Aqui não fazemos história, fazemos acordos”.

Por enquanto, surpreendentemente, está funcionando, mas as próximas etapas são de tirar o fôlego pelas enormes dificuldades. Incluindo a formação de uma Força Internacional de Estabilização (Egito, Indonésia, Azerbaijão? Está tudo em aberto) para desarmar o Hamas e ocupar áreas de onde o Exército de Israel se retire.

Haveria um Conselho de Paz, com Trump no topo e Jared Kushner e o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair como executivos, com a participação de doze a quinze palestinos de alta qualificação, mas sem conexões com o Hamas e a Autoridade Palestina – boa sorte em encontrar gente com esse perfil.

Sem falar na reconstrução de Gaza, para a qual os ricos da região estão hesitando em soltar o dinheiro enquanto não houver mais garantias da futura criação de um Estado palestino. Jared Kushner tem um plano: criar módulos urbanos temporários, mas dotados de serviços e amenidades que atraiam moradores de territórios sob domínio do Hamas e representem uma amostra do que seria a vida sem a opressão dos islamistas radicais e em paz com Israel. Parece impossível, mas ele já desafiou a realidade outras vezes.

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