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Ato pró-Bolsonaro reúne milhares no país, mas engajamento mostra sinais de desgaste

Neste domingo, 3, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram às ruas, em pelo menos 16 capitais e no Distrito Federal, para protestar contra o Supremo Tribunal Federal (STF), defender a anistia aos presos dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os atos, batizados de “Reaja Brasil”, ocorreram em todas as regiões do país, com maior concentração em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.  Bolsonaro, impedido por medidas cautelares de sair de casa nos fins de semana, participou apenas por videoconferência.

A mobilização marca a primeira ofensiva nacional bolsonarista desde que o STF impôs o uso de tornozeleira eletrônica ao ex-presidente, réu por tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro é acusado de conspirar para se manter no poder mesmo após a derrota nas urnas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2022. Apesar da ausência física, o ex-presidente acompanhou os atos transmitidos por aliados e interagiu remotamente em pelo menos três cidades: Brasília, Belém e Rio de Janeiro.

A tônica dos discursos foi a crítica ao Judiciário, especialmente ao ministro Alexandre de Moraes, relator das ações contra Bolsonaro no STF. Em diversas cidades, lideranças políticas pediram a votação do projeto de anistia aos condenados pelo ataque às sedes dos Três Poderes. “Se vocês não estivessem nas ruas, essas imagens não estariam correndo o mundo”, disse Eduardo Bolsonaro (PL-SP), diretamente dos Estados Unidos, em transmissão ao vivo durante ato em Belo Horizonte (MG). Segundo ele, há articulações com parlamentares europeus para ampliar sanções contra Moraes no exterior. “Em breve, nem Paris haverá mais para eles”, afirmou, em tom de ameaça.

Segundo metodologia do Monitor do Debate Político do Cebrap, da USP, em parceria com a ONG More in Common, que consiste em usar imagens da multidão, capturadas por drones, a manifestação na cidade de São Paulo reuniu cerca de 37,6 mil pessoas, o triplo da última manifestação, ocorrida no final de junho, que reuniu 12,4 mil pessoas. A margem de erro de 12% indica um público entre 33,1 mil e 42,1 mil participantes.

A adesão foi comemorada, inclusive, por várias das lideranças presentes, que se surpreenderam com o apoio do público mesmo sem a presença física do ex presidente Jair Bolsonaro e de aliados importantes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Aliados próximos do ex-presidente que estavam na manifestação afirmaram à reportagem que o ato deste domingo foi “prova inconteste da força de Bolsonaro”. Mas ao olhar os números  das últimas manifestações, as mobilizações em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro têm perdido fôlego. Em abril, uma manifestação também convocada por Bolsonaro levou 44,9 mil pessoas à avenida Paulista, segundo estimativa da Secretaria de Segurança Pública. Já em fevereiro de 2024, quando o próprio ex-presidente esteve presente, o ato atraiu aproximadamente 185 mil apoiadores, o que evidencia uma tendência de queda na capacidade de mobilização do bolsonarismo. A queda de mobilização também se verifica em outras capitais. Em Copacabana, no Rio de Janeiro, o ato de 16 de março de 2025 atraiu 26 mil pessoas, menos do que os 40 mil a 45 mil presentes em 21 de abril do ano anterior.

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O ato, na capital paulista, reuniu um número menor de lideranças do que a última manifestação. Estiveram presentes nomes como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o líder do partido na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), o prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que mais cedo havia discursado em Belo Horizonte.

Na multidão, apoiadores levaram uma profusão de faixas em “agradecimento” ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) e ao presidente dos Estados Unidos Donald Trump, com dizeres “Fora Lula e Fora Moraes”, “Bolsonaro livre”, a favor da “Anistia Já” aos condenados no 8 de janeiro e, ainda, com críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Também foram vistos cartazes que prestavam solidariedade à ex-deputada Carla Zambelli (PL-SP), presa na Itália na última semana.

“Não se coloca tornozeleira em ex-presidente, nem se ordena recolhimento domiciliar em final de semana. O resultado é esse, um tiro no pé do Lula e um golaço do Bolsonaro”, diz um nome próximo ao ex-presidente.

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Em seu discurso, o pastor Silas Malafaia criticou a ausência de nomes que se dizem aliados de Bolsonaro e que pleiteiam abocanhar uma fatia do eleitorado bolsonarista nas eleições de 2026.

“Cadê aqueles que dizem ser a opção no lugar de Bolsonaro? Cadê eles? Onde é que eles estão? Era pra estarem aqui, minha gente. Sabe o que é que fica provado? O que fica provado é que, até aqui, Bolsonaro é insubstituível”, declarou, sem citar os postulantes nominalmente.

Até agora, colocam-se como presidenciáveis pela direita nas urnas no ano que vem os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União); de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); do Paraná, Ratinho Jr. (PSD); e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Tarcísio justificou a ausência devido a uma cirurgia realizada neste domingo.

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No Rio de Janeiro, a manifestação ocupou a orla de Copacabana e contou com a presença do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do governador Cláudio Castro (PL). Flávio classificou as sanções americanas contra Moraes como uma “vergonha brasileira” e disse que os protestos mostram que “o povo está acordado”. Ainda não há innformações sobre o número de manifestantes.

Em Brasília, o protesto foi menor e reuniu cerca de 4 mil pessoas em frente ao Banco Central, segundo estimativa da Polícia Militar. Discursaram no trio elétrico os senadores Izalci Lucas (PL-DF) e Márcio Bittar (União-AC), e as deputadas Bia Kicis (PL-DF) e Caroline de Toni (PL-SC). O grupo criticou o foro privilegiado e pediu a aprovação imediata da anistia aos condenados do 8 de janeiro.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, por sua vez, liderou o ato em Belém (PA), onde declarou que “o fim da censura no Brasil está próximo”. Em Goiânia, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) falou à multidão na Praça Tamandaré. “O tempo do medo acabou. O Brasil voltou pra rua”, disse, em referência ao que chamou de “ditadura do Judiciário”. Em Salvador, a orla da Barra foi palco de gritos por anistia e apoio ao ex-presidente americano Donald Trump, visto pelos manifestantes como aliado da direita brasileira.

Além das capitais, manifestações também ocorreram em cidades do interior como São José do Rio Preto, Bauru e Araçatuba, no estado de São Paulo, e em Joinville, em Santa Catarina. Na capital catarinense, a expectativa era pela presença de Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro, que participou pela manhã de um ato em Criciúma.

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