Preso ao tentar levar ajuda humanitária à zona de conflito entre Israel e o Hamas, o ativista Thiago Ávila diz que são infundadas as acusações de que não tenha quitado corretamente dívidas junto a agricultores do assentamento Canaã, ligado ao MST, área a 40 quilômetros do centro de Brasília. Em reportagem de VEJA publicada na edição desta semana, agricultores sustentam que levaram um calote do ativista e do Movimento Bem Viver. Thiago, segundo eles, recolhia em média 15 caixas de verduras por semana, as revendia e não repassava os valores combinados. A prisão ganhou repercussão internacional porque entre os detidos estava a ativista sueca Greta Thunberg.
Os agricultores dizem que o Movimento havia prometido a cada um salário de 2.300 mensais e assinar a carteira de trabalho. Isso é uma coisa do nosso movimento político. Não tem nada a ver. É um movimento político coletivo, de várias pessoas, só que no fim das contas eles processaram o Movimento. Me botaram como réu solidário, mas a gente venceu todos os processos. As próprias famílias que atuam com a gente, que regenera os biomas, já falaram: ‘olha, o pessoal está mentindo’.
Por que você pediu aos assentados para assinarem um “termo de compromisso”, no qual eles abriam mão de eventuais dívidas? Aquilo foi uma decisão coletiva das famílias daquela região e das próprias pessoas do Movimento — indígenas, camponeses e outras da cidade que estavam naquele momento muito frustradas com a conduta de alguns. As famílias estavam espalhando mentiras sobre o Movimento. Então falaram: ‘olha, a gente quer que todo mundo assine um documento em que, primeiro, não vai ter mais violência doméstica nas famílias. A gente tinha muito caso de acusação de violência doméstica, e isso, para nós, é um problema de princípios.
Os agricultores dizem que houve pressão para eles assinarem o termo e que, logo depois da assinatura, a parceria foi desfeita. A gente já mostrou como aconteceu esses processos. São famílias que de fato tiveram uma conduta que a gente não pode aceitar. Prefiro não comentar, porque isso já virou processo judicial, mas eu não sou o principal envolvido nesse processo. Eu ia lá muito porque o pessoal queria a minha visibilidade, queriam que eu fosse lá e divulgasse.
Os agricultores usam a palavra “calote” para definir o que aconteceu. Isso é falso. Os juízes e as outras famílias da própria comunidade constataram que é falso. Fico tranquilo com isso porque todos os processos foram vencidos. Aquele era um projeto que visava ajudar a encontrar compradores para cestas orgânicas. Depois que o projeto terminou, eles resolveram processar.
Então os agricultores estão mentindo? Sim, com certeza. E os juízes estão constatando isso. A Justiça é isso, qualquer um pode processar, mas depois tem que provar.
O senhor é um apoiador da causa palestina. Foi divulgado que também esteve no enterro de Hassan Nasrallah, do grupo terrorista Hezbollah. Eles fizeram uma convocatória. Chamaram 1500 jornalistas e influenciadores do mundo inteiro para o enterro, de várias posições políticas. Não é algo restrito a apoiadores da causa palestina. Fui junto com outros comunicadores. Foi uma honra estar ali documentando um enterro que ia ter mais de 1 milhão de pessoas e que estava ameaçado de ser bombardeado por Israel. Fiquei feliz de ter ido, sou muito solidário ao povo libanês. Acredito que conhecer a história dos povos, sair daquela simplificação de que é terrorista, ou de que é um povo violento, é saudável para todo mundo.