O brasileiro Thiago Ávila, que estava no barco de ajuda humanitária interceptado por Israel, chegou nesta sexta-feira, 13, em Guarulhos, em São Paulo. Assim como os outros 11 tripulantes, Thiago foi detido pelas forças israelenses no domingo, 8, e aguardava deportação. O ativista, que estava em greve de fome e de água, foi colocado em solitária e ameaçado pelos militares.
“A gente tentou o máximo que a gente pudesse levar nossa missão humanitária e a gente foi impedido por um Estado racista, supremacista, que há oito décadas realizou limpeza étnica. Não tem nada a ver com religião, tem a ver com ideologia, o sionismo”, disse Thiago a repórteres no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
“E esse sionismo precisa ser enfrentado. Inspirado pelo povo palestino a gente faz um monte de coisa, mas é a esse povo que a gente deve homenagem, porque o palestino mostrou para o mundo o sistema que oprime. Eles (Israel) podem atacar qualquer país vizinho, eles podem atacar a flotilha”, continuou.
Ao desembarcar, Thiago foi recebido por Lara e pela filha do casal, Teresa, de um ano. Um grupo de manifestantes pró-Palestina também acompanhou o momento, com gritos contra a guerra e o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Eles também instaram Brasília a romper relações diplomáticas com Tel Aviv. A crítica foi ecoada pelo ativista.
“Os palestinos amam os brasileiros, gente. Espero que a gente consiga honrar isso, que sejamos um país que não é cúmplice, que não exporta petróleo para lá. Eu tenho certeza de que no coração de cada brasileiro está a verdade de que é errado bombardear hospitais, crianças. precisamos deter esse regime odioso”, afirmou Thiago, acrescentando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “deveria ter relações rompidas com essa ideologia odiosa”.
+ Ativista brasileiro detido por Israel é deportado e chegará em São Paulo nesta sexta-feira
Greve de fome
Além disso, ele disse que Israel “coloca crianças em prisão administrativa” e questionou: “O que é que o mundo vai fazer para deter esse horror”. O coordenador internacional da Coalização da Flotilha da Liberdade também destacou que a “história não é a flotilha, não é o Thiago, se há alguma coisa a dizer de heróis, são palestinos e palestinas que estão sobrevivendo há um ano e nove a um horror”. Mais de 54 mil pessoas foram mortas na Faixa de Gaza desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.
“Eles não gostaram do fato de que eu recusei qualquer comida ou água deles, eles me ameaçaram colocar no isolamento total, eu mantive a minha decisão e fui levado para lá, foram dois dias lá dentro. Sofri um processo de violência, mas não quero falar muito sobre isso porque nada se compara com o que cada palestino passa lá. É importante que a gente denuncie qualquer violação que aconteça com qualquer aliado, mas a gente está lá pelo povo palestino”, apelou Thiago.
+ Ativista brasileiro detido em Israel foi ameaçado e colocado em solitária, diz esposa
Entrevista de Thiago a VEJA
Após dias sendo vigiada por drones, o barco Madleen com doze ativistas e carregada de itens básicos humanitários com destino a Gaza foi interceptado no domingo, 8. Todos os seus tripulantes, incluindo Thiago e a sueca Greta Thunberg, foram rendidos e levados.
Com o barulho do mar ao fundo, Thiago conversou com a reportagem de VEJA na última quinta-feira, 5, sobre os perigos de levar um pequeno barco a vela lotado de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, onde quase toda a população enfrenta “risco crítico” de fome. Na ocasião, ele adiantou que não se surpreenderia diante do episódio que veio a cabo três dias depois, no domingo, e disse estar preparado para o pior.
“O maior perigo é um ataque, um ataque que Israel já fez há um mês contra o barco Conscience”, disse Ávila, em referência à embarcação humanitária atingida por drones israelenses na costa de Malta no início de maio. “A gente sabe que Israel tem poder para isso. Mas eu garanto que se Israel nos ataca, se nos prende, se nos faz mal, em pouco tempo a gente vai ter uma nova flotilha, não com duas pessoas, mas com 120 ou com 1.200 pessoas.”
“São quatro grandes cenários: ser derrotado no porto pela guerra burocrática; chegar próximo e ser interceptado, sequestrado, levado para Israel e depois deportado; ataque direto, como já aconteceu há um mês e há 15 anos; ou chegar em Gaza, cumprir a missão humanitária e depois retornar para conseguir trazer ainda mais alimentos em outra viagem”, continuou. “Nossa equipe é treinada para saber responder bem a essas situações de emergência. De longe, um ataque é o pior cenário. Estamos preparados para o pior.”