Nesta quinta-feira, 11, o ciclone extratropical começou a se afastar da costa do país. O sol voltou a aparecer em quase todo o território nacional, e o dia deve ser, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, marcado por menos instabilidades — um cenário bem distinto da tormenta de quarta-feira. Na capital paulista, as rajadas chegaram a 96 km/h, derrubaram mais de mil árvores, fecharam os principais parques, deixaram 1.500 endereços sem luz e provocaram o cancelamento de 340 voos, além de comprometer a operação de trens. O caos não poupou nem o Papai-Noel gigante da Avenida Paulista, que tombou e ficou estendido sobre a passarela de Natal, de braços erguidos como se pedisse ajuda para se levantar.
O vendaval também deixou estragos na Grande São Paulo, onde 2,3 milhões de imóveis amanheceram sem energia. Muitas vias seguem interditadas devido à queda de árvores, fiações e até transformadores. A Enel terá de reconstruir diversas instalações, o que pode prolongar o tempo de espera para o restabelecimento da energia em residências e comércios. A falta de luz, problema crônico da metrópole, volta a expor as fragilidades da distribuição: somente este ano, segundo a Aneel, já foram registradas mais de mil ocorrências de interrupção de energia na capital e nos 23 municípios da região metropolitana.
O episódio reflete um quadro mais amplo: desastres naturais no Brasil — incluindo chuvas intensas, inundações e fenômenos como ciclones extratropicais e frentes frias — acarretaram perdas econômicas estimadas em dezenas de bilhões de reais na última década e afetaram milhões de pessoas. Entre 2013 e 2023, fenômenos climáticos extremos causaram prejuízos totais de cerca de R$ 639,4 bilhões em todo o país, atingindo mais de 5 mil cidades e impactando mais de 418 milhões de pessoas (muitas podem ter sido afetados mais de uma vez, porque o cálculo é acumulativo). Além disso, grandes eventos extremos no Sul já trouxeram cortes significativos à economia regional: em desastres anteriores, prejuízos com ciclones e enchentes chegaram a R$ 1,3 bilhão só em um evento no Rio Grande do Sul, incluindo perdas no comércio, agricultura e infraestrutura.
Hoje, o Inmet classificou as condições do tempo como de risco potencial em todas as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde ainda são esperados ventos entre 40 e 60 km/h. Apesar da previsão de tempo mais ameno, ainda é preciso cuidado e paciência para circular pelas ruas da capital paulista. A remoção de árvores e os reparos na rede elétrica continuam a dificultar o trânsito — que nesta época do ano já é intenso por causa das festas de Natal. Como diz o ditado popular, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
O ciclone extratropical visto pela Nasa
A virada do tempo no início da semana, marcada por chuvas e vendavais intensos — fenômenos cada vez mais frequentes e intensos no contexto de mudanças climáticas — foi provocada pela formação de um ciclone extratropical gerado por um sistema de baixa pressão entre o sul do Paraguai, o noroeste da Argentina e o Rio Grande do Sul. O sistema que alcançou a costa brasileira foi registrado pelo satélite meteorológico GOES-19, da Nasa. As imagens mostram a dimensão do fenômeno que destruiu casas no Sul e deixou um rastro de impactos humanos e materiais. Em Palhoça, Santa Catarina, um casal e um bebê morreram ao entrarem com o carro em uma área alagada.