Ataques israelenses atingiram diretamente a parte subterrânea da usina nuclear de Natanz, a maior do Irã, informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) na terça-feira, 17.
“Com base na análise contínua de imagens de satélite em alta resolução coletadas após os ataques de sexta-feira, a AIEA identificou elementos adicionais que indicam impactos diretos nos salões subterrâneos de enriquecimento (de urânio) em Natanz. Não há mudanças a relatar (nas usinas nucleares) em Esfahan e Fordow”, afirmou o órgão de vigilância nuclear da ONU em comunicado.
Israel bombardeou a usina de Natanz na última sexta-feira, 13, no ataque surpresa que levou à eclosão do conflito com o Irã, que já matou mais de 240 pessoas em menos de uma semana. Na ocasião, o Exército israelense afirmou ter causado “grandes danos” ao complexo. No entanto, esta é a primeira vez que a ONU relata “impactos diretos” às centrífugas de enriquecimento de urânio em Natanz, o que representa um aumento do risco de vazamento nuclear.
Contaminação de Natanz
Na segunda-feira, 16, o diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), Rafael Grossi, já havia alertado para os riscos da segurança nuclear devido aos bombardeios de Israel a instalações do programa atômico do Irã. Natanz foi responsável pelo aumento do refinamento de urânio a 60%, abaixo dos 90% necessários para armas nucleares.
Na ocasião, o chefe da IAEA informou houve “contaminação radiológica e química”, segundo Rossi, e acredita-se que “isótopos de urânio contidos em hexafluoreto de urânio, fluoreto de uranila e fluoreto de hidrogênio estejam dispersos no interior da instalação”.
“A radiação, composta principalmente por partículas alfa, representa um perigo significativo se o urânio for inalado ou ingerido. No entanto, esse risco pode ser gerenciado de forma eficaz com medidas de proteção adequadas, como o uso de dispositivos de proteção respiratória dentro das instalações afetadas”, amenizou ele.
Localizada 220 quilômetros a sudeste de Teerã, a usina de Natanz era protegida por baterias antiaéreas, cercas e pela Guarda Revolucionária, organização armada mais poderosa do Irã. A parte subterrânea da usina, onde fica a maior parte das instalações de enriquecimento, é enterrada para protegê-la de ataques aéreos. Estima-se que a instalação iraniana tenha cerca de 15 mil centrífugas em funcionamento.
Desde que o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã em 2018, assinado durante o governo de Barack Obama e que limitava o enriquecimento de urânio do país em troca do alívio das sanções econômicas, o governo iraniano passou a acumular material em níveis próximos aos necessários para a produção de armas nucleares. Teerã alega que seu programa tem fins exclusivamente energéticos, mas países ocidentais desconfiam que esteja tentando desenvolver uma bomba atômica.