Nesta terça-feira, 5, o Banco Central divulgou a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que manteve a Selic em 15% ao ano. O comitê reforçou que a Selic deve continuar nas alturas já que política monetária seguirá “significativamente contracionista” por “período bastante prolongado”, enquanto as expectativas de inflação permanecem desancoradas.
A ata descreve que o ambiente externo está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, o que tem afetado o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos, exigindo particular cautela por parte de países emergentes. A ata também cita o tarifaço e seus efeitos que aumentam a necessidade de atenção. “A elevação por parte dos Estados Unidos das tarifas comerciais para o Brasil tem impactos setoriais relevantes e impactos agregados ainda incertos”, diz a ata. Por isso, o Copom “deve preservar uma postura de cautela” e focar os canais de transmissão para a inflação doméstica.
O texto destaca que a economia brasileira está perdendo um pouco de fôlego, e os números não caminham todos na mesma direção. Na avaliação do comitê, há um choque de forças: crédito mais caro e escasso puxa a economia para baixo; emprego forte e salários em alta puxam para cima.
Inflação
A inflação cheia e as medidas subjacentes “mantiveram-se acima da meta”, enquanto as expectativas medidas pelo Focus, a pesquisa semanal feita pelo BC com economistas e agentes do mercado financeiro, continuam furando o teto da meta. “A principal conclusão obtida e compartilhada por todos os membros do Comitê foi de que, em um ambiente de expectativas desancoradas, como é o caso do atual, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, diz a ata. O BC destaca que a inflação dos serviços ainda continua acima da meta, embora haja queda nos preços dos bens industrializados e um alívio na inflação dos alimentos, que veio abaixo do esperado. A “inflação de serviços… segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta”, e “os núcleos de inflação têm se mantido acima do valor compatível com o atingimento da meta há meses”, destaca o comitê.
No balanço de riscos, de alta, o Copom destaca a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado, maior resiliência na inflação de serviços e uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Do lado de baixa, cita eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada, desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e redução nos preços das commodities
Política fiscal
Na ata, o comitê destaca que a política fiscal pode facilitar ou dificultar o combate à inflação: se for contracíclica, previsível e crível, reduz o risco do país e ajuda a trazer a inflação para a meta; se houver afrouxamento de reformas e disciplina fiscal, mais crédito direcionado e incerteza sobre a estabilização da dívida, aumenta o risco e a “taxa de juros neutra”, obrigando o Banco Central a manter a Selic mais alta por mais tempo para desinflacionar; por isso, pede que fiscal e monetária atuem de forma harmoniosa.
“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade. O Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas.
Decisão
O comitê decidiu manter então a taxa de juros em 15% ao ano, por unanimidade. A escolha “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”, diz o texto.
E o Copom deu indicação de que os juros devem continuar altos por tempo bastante prolongado, o que quer dizer que não deve baixar os juros na próxima reunião. “Determinada a taxa apropriada de juros, ela deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
O texto destaca que o Comitê “seguirá vigilante”, que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados” e que “não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste”.