O governo de Luiz Inácio Lula da Silva aumentou de forma significativa seus gastos em comunicação digital neste ano — e o investimento, segundo levantamento da Nexus, começa a mostrar resultados (leia reportagem de capa sobre o tema).
De acordo com o CEO da empresa de inteligência de dados, Marcelo Tokarski, em entrevista ao programa Os Três Poderes, da VEJA, o presidente Lula é hoje o político com maior desempenho nas redes sociais, superando adversários em quase todas as plataformas.
“As redes sociais são a nova arena política. O Brasil é um dos países que mais usam redes por dia. É natural que qualquer governo invista nesse campo”, explicou Tokarski. “A esquerda entendeu essa lógica e mudou sua estratégia digital — e agora colhe os frutos disso.”
O avanço digital do governo Lula
O estudo da Nexus mostra que Lula disparou na liderança de engajamento nas redes, especialmente no Instagram e no TikTok — plataformas onde o governo tem apostado em uma linguagem mais popular e voltada ao público jovem.
A diferença é tamanha que, mesmo com o ex-presidente Jair Bolsonaro impedido de usar suas redes por decisão judicial, o bolsonarismo ainda encontra em Eduardo Bolsonaro (PL-SP) o seu principal representante digital.
“O presidente Lula tem uma presença forte em redes mais amplas e com público diversificado. Já Eduardo Bolsonaro se concentra em nichos fiéis, muito engajados, mas limitados”, analisou Tokarski.
Segundo o levantamento, Lula se destaca no Instagram e no TikTok, enquanto Eduardo Bolsonaro tem vantagem no X (antigo Twitter), no YouTube e no Facebook, redes onde o público bolsonarista ainda mantém maior atividade.
Eduardo Bolsonaro: influência em meio à crise política
Apesar de viver um momento político delicado, com investigações e risco de perder o mandato por faltas na Câmara, Eduardo Bolsonaro aparece como segundo colocado geral em alcance e engajamento digital — atrás apenas de Lula.
Tokarski explica que isso se deve ao efeito-bolha das redes sociais, que amplifica o engajamento dentro de grupos ideologicamente homogêneos.
“O Eduardo Bolsonaro tem desgaste com parte da opinião pública, mas se fortalece na parcela mais engajada do bolsonarismo. Ele virou o principal porta-voz digital dessa base”, disse o CEO da Nexus.
Com o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível e proibido de postar em suas redes, Eduardo ocupa o espaço simbólico do pai, mantendo ativo o discurso de “defesa da pátria” que ressoa com os seguidores mais fiéis.
Tarcísio e os limites da direita nas redes
A pesquisa também mostra que, entre os nomes da direita, nenhum rivaliza hoje com o alcance digital de Eduardo Bolsonaro.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), ainda é visto como uma figura regional — conhecido por apenas 70% dos eleitores brasileiros, segundo estimativas da Nexus — e ainda não consolidou uma imagem nacional.
“Tarcísio tende a crescer se entrar em campanha, porque ainda é pouco conhecido fora de São Paulo. Mas hoje quem ocupa o vácuo deixado pelo pai é o Eduardo Bolsonaro”, observou Tokarski.
Redes sociais e política: o novo campo de batalha
Para Tokarski, o aumento dos gastos do governo em publicidade digital não representa irregularidade, mas uma adaptação ao cenário contemporâneo.
Assim como empresas e partidos, o governo agora destina recursos de forma planejada para produzir conteúdo segmentado, interativo e visualmente atrativo.
“Antes o governo comunicava e depois adaptava o discurso para as redes. Agora, a lógica se inverteu: as redes estão no centro da estratégia”, disse o executivo.
O resultado, segundo o estudo, é uma mudança de equilíbrio no debate digital: a direita ainda tem força, mas o domínio que exerceu nos últimos anos já não é absoluto.
A batalha pela narrativa de 2026
Com a eleição presidencial a pouco mais de um ano de distância, a guerra nas redes sociais promete ser novamente decisiva.
O bolsonarismo ainda mantém uma base ruidosa e fiel, mas Lula e o PT se profissionalizaram digitalmente — e o governo passou a “falar a língua da internet”, com vídeos curtos, memes e estratégias de engajamento segmentado.
“Hoje o jogo está mais equilibrado. A direita ainda é mais agressiva, mas a esquerda aprendeu a disputar terreno”, concluiu Tokarski.
Enquanto Lula mira o público jovem no TikTok, Eduardo Bolsonaro mantém viva a militância digital do pai — e o Brasil, mais uma vez, se prepara para decidir sua política a um clique de distância.