O Liverpool, um dos maiores e mais vitoriosos clubes da Inglaterra, tem uma história marcada por algumas das maiores tragédias do futebol. As mais notórias são Heysel e Hillsborough, que deixaram cicatrizes profundas na torcida e na memória do clube. Nesta quinta, 3, a morte trágica do português Diogo Jota, jogador dos Reds, e seu irmão, também atleta de futebol, entra para essa infeliz lista de um dos maiores campeões da Premier League.
Há 40 anos, em 29 de maio de 1985, o Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, foi palco de uma das páginas mais sombrias do futebol europeu. Aconteceu antes da final da Taça dos Campeões Europeus (atual Champions League) entre Liverpool e Juventus, da Itália. Apesar das orientações da Uefa para que torcedores dos dois clubes não fossem colocados no mesmo setor, uma falha na organização resultou colocou os fãs dividindo a mesma área (Setor Z), que era separada por uma grade frágil. Confrontos eclodiram e, devido à pressão dos hooligans do Liverpool, um muro do estádio desabou.

O resultado foi devastador: 39 pessoas morreram, a maioria torcedores italianos, e mais de 600 ficaram feridas. A decisão de seguir com o jogo, apesar do caos e das mortes, ainda é um ponto de grande controvérsia. A Juventus venceu a partida por 1 a 0. Como consequência da tragédia, clubes ingleses, incluindo o Liverpool, foram banidos de competições europeias por cinco anos. O Liverpool, especificamente, foi banido por seis anos. Heysel expôs a gravidade do hooliganismo no futebol inglês da época e impulsionou mudanças significativas nas medidas de segurança em estádios por toda a Europa.
Apenas quatro anos após o caso Heysel, em 15 de abril de 1989, o Liverpool seria novamente protagonista de uma tragédia, desta vez no Estádio Hillsborough, em Sheffield, durante a semifinal da Copa da Inglaterra contra o Nottingham Forest. O desastre foi resultado de uma série de falhas de segurança e negligência por parte da polícia e da organização do evento. Com o fluxo intenso de torcedores do Liverpool se aglomerando nos portões de entrada, a polícia abriu um portão de saída, o que permitiu que um grande número de pessoas entrassem em um setor já superlotado do estádio (Leppings Lane End), que estava cercado por grades de contenção. A consequência foi um esmagamento em massa contra as grades e a parede, resultando na morte de 97 torcedores do Liverpool. Mais de 700 pessoas ficaram feridas.

A tragédia de Hillsborough foi inicialmente atribuída aos próprios torcedores, que foram injustamente culpados por “entrar sem ingresso” ou por estarem embriagados. No entanto, anos de luta e investigações posteriores, lideradas pelas famílias das vítimas, provaram que a causa real foi a negligência da polícia e as condições precárias do estádio. Em 2016, um júri de inquérito concluiu que as 96 vítimas (na época) foram mortas ilegalmente devido a “negligência grave” da polícia. Hillsborough marcou o fim das grades de contenção nos estádios ingleses e levou a uma revisão completa da segurança, com a introdução de assentos em todos os estádios das principais divisões, entre outras medidas.
A tragédia mais recente ocorreu 27 de maio deste ano, durante um desfile de comemoração do título da Premier League dos Reds. Um carro atropelou uma multidão de torcedores do Liverpool, deixando 27 pessoas hospitalizadas, com quatro em estado grave. A polícia descartou qualquer ligação com terrorismo.
Pouco mais de um mês depois, as vítimas foram o jogador Diogo Jota, 28, e seu irmão André Silva, 25. O primogênito era atacante da equipe inglesa, e atuou pela seleção portuguesa, pela qual foi bicampeão da UEFA Nations no último mês. O mais jovem também era jogador e atuava pelo Penafiel, clube da segunda divisão de seu país natal. Ambos estavam em um carro que saiu de uma estrada na Espanha, pegou fogo e ficou completamente destruído e irreconhecível.